domingo, 24 de outubro de 2010

Um encontro com Jorge Gonzáles:a constituição de objetos de pesquisa e a ciência como ato político


Pesquisar ou pretender-se pesquisador é um ofício que exige resiliência. Primeiro, porque os desafios, alegrias e tropeços não são poucos e, em segundo, é preciso estar atento e flexível, pois tudo particpa desta construção.

O instigante e animador encontro com o professor Dr. Jorge Gonzáles, reforçou não apenas algumas certezas, mas, sobretudo, inquietações para o “seguir pesquisando”. O encontro com Gonzáles foi dilacerante para pesquisas que por vezes configuram-se apenas como abstrações teóricas ou fabulações retóricas: é preciso ser claro e estabelecer comunicação, ao invés de obscurantismos com os problemas concretos de nossa realidade, destacou o professor. Nesta direção, Gonzáles alertou-nos sobre as formas de como vamos conhecendo e construindo nossos objetos de estudo: esse processo tem que ser claro e sempre explicito em nossas teses, artigos ou dissertações.

Não apenas defensor do empirismo, Gonzáles reforçou a ideia de que os conceitos científicos constituem teorias que iluminam a construção de um problema concreto. Prevalência do empírico sobre o teórico?

Não. Gonzáles deixou claro que a construção de um objeto de pesquisa deve ser norteada por um arcabouço conceitual e teórico, os quais ampliarão a visão do pesquisador mediante a consttrução e solução de problema concreto. Óbviamente que a construção do objeto pode ser, inicialmente, empírica, ou seja, a partir de um problema que inquieta nossa existência cotidiana. Sendo assim, o passo natural é elaboração de uma pergunta relativa ao que se identifica no concreto – ou a partir do mais evidente. Temos, então, a construção da “pergunta-problema prático”, que ao ser explorado irá requerer e estabelecer relações com conceitos e, posteriormente, designar diferenciações com os aportes teóricos em jogo.
A noção de “pergunta-problema prático” também diz respeito à necessidade de clareza da estruturação cientifica, bem como a aplicabilidade dos seus resultados, que devem ser compreendidos e, sobretudo válidos ao campo investigado: toda a pesquisa deve ser uma resposta aos diversos e urgentes problemas de nossa realidade.

Para Gonzáles, isso só será possível se os resultados da pesquisa, mesmo que em forma de abstrações teóricas, forem compreendidos por todos os sujeitos que a compõe: apresenta-se, então, a noção de ciência como ato político e de intervenção social. Observa-se, assim, não apenas um modo empírico de constituição do objeto e uma ideia de ciência cíclica ou instrumental, onde o empírico e o teórico atuam com um fim e si mesmos.
Assim, Gonzáles utiliza-se do símbolo “@” [Lê-se arroba] como revelador da constituição do objeto de pesquisa e do próprio campo científico. Ao invés do espiral ou do círculo, toda pesquisa cientifica deve ser impulsionadora; jogar conhecimento para fora; ser centrífuga; como movimento que expulsa criatividade e resultados, que sirvam à solução de problemas de nossa atualidade, esta, ainda marcada pela desigualdade econômica e degradação ambiental.

Enfim, a exemplo de Bourdieu, Gonzáles ressaltou que todo o pesquisador pode contribuir com a criaçao de condições sociais que facilitem uma produção coletiva de utopias realistas.

2 comentários:

Matheus Lock disse...

Muito bom texto Joel. E grande seminário!

Susan Liesenberg disse...

"O encontro com Gonzáles foi dilacerante para pesquisas que por vezes configuram-se apenas como abstrações teóricas ou fabulações retóricas."
Êssaê!
Bacana o post, Joel.
Abração!