
Em nossa região, falar de política partidária está sendo cada vez mais desafiador. Há um bom tempo atrás você ainda tinha possibilidades de seguir uma linha crítica a respeito de algum político específico, pois a sua identidade e firmeza ideológica lhe proporcionava certo campo de distinção frente aos demais.
No entanto, podemos perceber que essa “identidade ou firmeza ideológica” que o político assumia foi aos poucos desaparecendo.
Podemos até dizer que já não se fazem ou elegem mais políticos como antigamente, os de pulso firme, aqueles que possuíam uma personalidade e postura não somente em discurso, mas também em atitudes. A distinção era explicita e se sabia que os políticos “vermelhos” andavam á frente e junto ao povo e que os “azuis” eram à frente de uma classe minoritária e historicamente privilegiada.
Essa dificuldade de se distinguir um político de outro é devido à superficialidade ideológica partidária que fixa raízes há muito tempo aqui em nossa região. Falo aqui dos políticos eleitos, dos que já tiveram a oportunidade. Segundo Maffesoli*, sociólogo francês, o político se estrutura cada vez mais na razão monovalente, em uma única visão linear que não abre espaço ou não comporta mais a pluralidade da vida social, que é a sua base. Em nossa realidade é assim também, pois nada pode escapar da monofonia ditadora que sobe de maneira exclusiva da capital.
Parece que tudo já está traçado e embalado para o próximo 03 de Outubro. Um exemplo disso são as pesquisas encomendadas que rolam por aí. Nesta semana, fui abordado na rua por um agente de pesquisa eleitoral que me induzia a escolher respostas prontas. Eram nomes de possíveis candidatos com suas coligações. Fiquei perdido quanto à resposta, pois jamais imaginaria que seria possível misturar o vinagre com o azeite. Com isso, concluí que se variavam os nomes, mas a estrutura ideológica permanece a mesma.
Isso é uma prova de que para as amarras políticas de nossa região nada é impossível, afinal ninguém quer deixar o poder tão fácil. Quando se enfraquece aqui, busca-se o equilíbrio ali, e assim vai se compondo a tradicional salada de frutas, com um sabor tuti-fruti, você engole o todo, mas não identifica mais com precisão o sabor de cada uma das frutas. Somente quem prepara tem uma leve percepção dos ingredientes, e quando questionado sobre a receita, incorpora o camaleão, afirmando que coligações são naturais e necessárias. Há desquites, separações partidárias, mas isso não passa de briguinhas pelo poder interno, nada que se considere ou que se amplie numa divergência político-ideológica de fato.
O que mais me preocupa é que devido à correria pela sobrevivência a grande maioria do povo se vê limitado a essa mesmice. Dentro dessa busca pela aliança entre os partidos, percebe-se a lógica maquiavélica, onde “os fins justificam os meios”. É lógica a certeza de que quem se remete à busca de qualquer parceiro para sobreviver, isso condiz a um conceito: o de prostituição.
Fiquemos de olho nos engravatados que sobem da capital para o nosso meio oeste, buscando reduzir a riqueza de nossa política à voracidade e ganância de seus interesses pessoais.
Fonte de pesquisa: *MAFFESOLI, M. A Transfiguração do Político. Porto Alegre: Sulina, 2005.
Nenhum comentário:
Postar um comentário