“Todas as coisas não comunicadas, que não foram nunca confiadas a ninguém, deixam de existir, pois não há para elas lugar permanente na realidade” Vera S. Telles.
domingo, 15 de maio de 2011
Chapecoense derruba previsão da RBS-SC
Chapecoense derrubou a opinião dos que se autodenominam os gurus do esporte catarinense.
A soberania do Grupo RBS foi ferida neste último final de semana. O franco atirador: Chapecoense, time do oeste e campeão catarinense 2011. Considerada o deus Hermes por muitos sulistas – o deus mensageiro dos demais deuses - o referido grupo multimidiático passou batido e nem de raspão emplacou as previsões feitas no início e durante o campeonato estadual.
Seus jornalistas, radialistas e palpiteiros esportivos anunciavam, desde Floripa, que o título dificilmente escaparia do litoral. Tiro pela culatra. Na teletransmissão da grande final, o comentarista do grupo Sirotsky deixou escapar várias expressões: "poucos esperavam esse resultado"; "o futebol do oeste surpreendeu", “as previsões não apontavam nessa direção”.
Isso nos dá margem para questionarmos a credibilidade de uma rede de comunicação que, discursivamente, diz-se catarinense, mas que na prática não se sustenta. A sua falta de pontaria nos palpites esportivos é revelador de outro problema: a prática jornalística distante dos contextos, que ocasiona a disseminação de informações atropeladas e pouco investigativas.
Exemplos são encontrados facilmente. Basta folhearmos as páginas do Diário Catarinense para encontrarmos a superioridade de matérias sobre o litoral em detrimento das outras regiões do estado. Diário Catarinense? A título de ilustração, o referido grupo midiático também é proprietário do Jornal de Santa Catarina, que, na realidade, é o jornal de Blumenau. Como morador do meio-oeste, jamais encontrei, se quer, um “Jornal de Santa Catarina” circulando pela minha cidade. Santa Catarina é, geograficamente, um dos menores estados do país e poderá ficar ainda menor se os jornais do grupo RBS não ampliarem a sua prática jornalística às demais regiões do estado.
Não dá para generalizar. O extremo e o meio-oeste aparecem lá pelas tantas; em matérias miúdas; nas páginas policiais; quando a divisão do prêmio da mega-sena vai parar na delegacia; quando OVNIS são flagrados sobrevoando a região; etc. na mesma direção, a região serrana é capa de jornal quando a festa do pinhão se aproxima ou quando os termômetros de Lages ganham dos de São Joaquim ou dos da Serra Gaúcha. As regiões oeste e meio-catarinense são para a RBS eventos fora de época ou visíveis apenas quando algo de inesperado por ali acontece.
Por um momento, até achei que este argumento estaria superado. Na semana que antecedeu o dia das mães, deparei-me com uma considerável reportagem sobre a região meio oeste. Miragem. Nada de novo, pois o teor da cuja reportagem versava sobre o grande índice de mortes ocorridas nas rodovias de Lebom Régis e Joaçaba.
Mortes, polícia, acidentes, enchentes e, logo mais com a estiagem, novos retratos cumprirão a obrigação de se falar da outra ponta do Estado. Não dá para se generalizar, pois, de vez em quando, alguma notícia menos negativa é veiculada. Mas em comparação com totalidade, a mesma se torna exceção que apenas confirma a regra: o oeste e o meio oeste catarinense são matéria prima de segunda, necessária para esquentar o investimento publicitário de algumas empresas.
Antigamente havia certo contraponto feito pelo jornal À Noticia. Mas, quando se tornou ameaça comercial para os cofres da grande rede, logo foi comprado, tornando-se, hoje, o filhinho pródigo da grande rede. O mesmo ocorreu com a extinta TV Catarinense, que acabou abaixando a antena, tornando-se mais uma sucursal da bendita rede. Ou seja, mais uma sucursal que pouco infere na cobertura final, pois as pautas são definidas pela central lageana e supervisionadas pela equipe jornalística lá do litoral.
Tudo bem, até poderemos usar o argumento de que a RBS possui sucursais em Chapecó e em Lages, mas o que há de ser questionado é o grau de representatividade ou de qualidade dos conteúdos produzidos em detrimento das gerencias editoriais que se localizam desde a grande mãe Rede Globo, o grande pai RBS-Porto Alegre e a filha bastarda RBS-Florianópolis. Ou seja, nesse processo mais ou menos vertical, a produção informacional local fica comprometida e descaracterizada. Qual o programa local realizado pelas sucursais do interior do Estado? Programa Patrola de Poa/Floripa? Galpão Crioulo da família Fagundes e de seus convidados?
Enfim, parabéns ao time da Chapecoense, que forçou a hegemonia da baita rede; esverdeou as páginas dos seus jornais na segunda-feira e derrubou a opinião dos que se autodenominam os gurus do esporte catarinense. Mas para isso precisou ser campeão; ser extraordinário, caso contrário, nada seria para a rotina produtiva de uma rede que se diz catarinense.
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Um comentário:
Essa rede de comunicação, segue a mesma linha dos governos de SC - com um bairrismo encardido pelos tempos, tem a visão errônea que SC não ultrapassa os limites do litoral.
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