quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A confissão da mídia


Até os hidrantes da avenida Paulista sabem que a imprensa de São Paulo está em campanha contra Dilma Rousseff e em favor de José Serra. A revista Veja e os jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo têm sido cabos eleitorais tão despudorados quanto o presidente da República na defesa da sua pupila Dilma. É pontapé nos países baixos contra soco no fígado. Até agora, contudo, a grande imprensa tentava fingir imparcialidade e vociferava contra as afirmações de Luiz Inácio de que haveria favorecimento aos seus opositores. Finalmente o velho e conservador "Estadão" resolveu abrir o jogo. Em editorial, proclamou seu apoio a José Serra. Os hidrantes da luxuosa Paulista sorriram. A necessidade, volta e meia, faz a "virtude". Mas é apenas mais um gesto desesperado para tentar uma virada improvável. É só. Yes.

O texto da adesão oficial é um primor de maniqueísmo, com algumas mentiras deslavadas e o tom de falsa sensatez que caracteriza o discurso extremista da direita: "Com todo o peso da responsabilidade à qual nunca se subtraiu em 135 anos de lutas, o Estado apoia a candidatura de José Serra à Presidência da República, e não apenas pelos méritos do candidato, por seu currículo exemplar de homem público e pelo que ele pode representar para a recondução do país ao desenvolvimento econômico e social pautado por valores éticos. O apoio deve-se também à convicção de que o candidato Serra é o que tem melhor possibilidade de evitar um grande mal para o país".

Qual o mal que Serra poderá evitar? Qual o mal que Dilma poderá causar? O de permitir que o Brasil continue crescendo economicamente e salvando-se das crises internacionais como aconteceu durante o governo de Luiz Inácio? Se não fosse maniqueísta, o "Estadão" poderia ter dito que Serra faria mais bem ao Brasil. É uma sutileza, claro. Mas o jornal preferiu sugerir que Dilma representa o mal, um grande mal para o país. Certamente o mal de continuar incorporando jovens carentes ao mundo universitário, tirando milhões de pessoas da condição de miséria absoluta, conservando programas sociais existentes em qualquer país civilizado como França, Alemanha e Inglaterra, sem contar os países escandinavos, pois aí já seria apelação e complexidade demasiada para a mentalidade tacanha e linear dos redatores do "Estadão".

No passado, para evitar o "mal", o "Estadão", abriu voto para Collor, Veja e Folha de S. Paulo precisam seguir o mesmo caminho e confessar a preferência por Serra. Só há um pequeno problema: o que o "Estadão" considera um mal para o Brasil, a continuidade do atual governo, 80% da população acha um bem. É isso que dói no lombo da mídia tucana. Resta para essa gente uma pretensa explicação sofisticada: a ignorância da plebe supostamente comprada pelo Bolsa-Família. José Serra, o cavaleiro do bem, promete, se eleito, possibilidade tão grande quanto a do Barueri ser campeão brasileiro neste ano, ampliar o Bolsa-Família. Quer tomar para si a "máquina de comprar votos"? Sem dúvida, o Brasil pode muito mais. Pode viver sem serrar a opinião pública.

Juremir Machado da Silva

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