“Todas as coisas não comunicadas, que não foram nunca confiadas a ninguém, deixam de existir, pois não há para elas lugar permanente na realidade” Vera S. Telles.
terça-feira, 26 de abril de 2011
CHERNOBYL, 25 ANOS: Mortes podem chegar a 100 mil
A dimensão da tragédia é maior do que assistimos ou imaginamos.
O dia 26 de abril de 1986 será lembrado para sempre. Passados 25 anos, Chernobyl é o pior acidente nuclear registrado na história da humanidade, pois as consequências, além das inúmeras vidas ceifadas naquele momento, também se prolongam na vida dos sobreviventes. Muitos deles continuam sobrevivendo em condições subumanas, convivendo com doenças e demais problemas causados pela irradiação nuclear.
Não há dúvida de que esta data condenou para sempre a vida daquele povo. Cientistas afirmam que as consequências da explosão poderiam ser menores se as autoridades não tivessem demorado tanto em avisar a população para que deixasse o local. Além disso, um exército de operários, sem equipamento apropriado, passou seis meses construindo uma estrutura de isolamento sobre o reator. Nenhum trabalhador sobreviveu.
É difícil de imaginar que as invenções humanas possam trazer consequências para uma vida inteira, destruindo e causando dor mesmo depois de 25 anos de seu ocorrido. A dimensão da tragédia é maior do que assistimos ou imaginamos. Ela devastou, além de corpos, os sonhos do povo ucraniano de maneira irreversível e cruel. Os doentes, vítimas da irresponsabilidade das autoridades, carregam em si a marca da destruição radioativa que se torna o estigma de um dia que jamais terminou.
O tamanho real da tragédia
Um estudo realizado pelo Greenpeace aponta que as mortes ocorridas nesse desastre, na Ucrânia, na Belarus e na Rússia, chegam a 100 mil. No entanto, autoridades locais ainda manipulam os dados ao insistirem que o número de vítimas não ultrapassou a marca de 15 mil pessoas. No mês em que se completam os 25 anos do desastre, o cenário nos arredores da usina nuclear é horrível. Não há vegetação ou qualquer possibilidade de sobrevivência humana, animal e vegetal.
O relatório "As consequências na saúde humana da catástrofe de Chernobyl" revela que nos últimos 15 anos 60 mil pessoas já morreram na Rússia. Este mesmo relatório ainda evidencia que a radiação é responsável pelo aumento do número de casos de câncer, de doenças cardiovasculares e de afecções nos sistemas imunológico e endócrino que têm ocasionado aumento da taxa de envelhecimento populacional. Ocorreu também o aumento do número de malformações fetais, mutações cromossômicas e doenças psicológicas. Outros efeitos drásticos ainda afetam a economia local. Mais de 300 mil famílias perderam suas terras ou foram remanejadas para áreas improdutivas.
Não é novidade que a imprensa local, subsidiada por multinacionais interessadas na reativação de novos reatores, tenta esconder os fatos, sobretudo os de que, mesmo após 25 anos do desastre, a presença da radioatividade nuclear na usina está 10 vezes acima do permitido. A desinformação é, segundo relatórios científicos, um dos fatos que contribuem para o agravamento da situação.
Pesadelo criado pelo homem
A catástrofe ocorrida em Chernobyl chocou o mundo e colocou em pauta a questão do perigo das usinas nucleares: a irresponsável ambição humana construiu o que destrói milhares de vidas em apenas algumas horas. Porém, depois de Chernobyl continuaram a investir em usinas nucleares mesmo sabendo dos graves riscos às pessoas. O acidente nuclear destrói vidas, sonhos e transforma tudo em um pesadelo sem fim. O perigo representado pelas usinas nucleares e o risco de contaminação por meio da radiação é grande. Então, qual é objetivo de se investir algo tão destrutivo?
Neste ano, podemos conferir mais um caso desastroso de acidente na usina nuclear de Fukushima, Tokyo Eletric Power (Tepco) no Japão, que resultou em 13.590 mil mortos e 14.447 desaparecidos. Embora este desastre com a operadora nuclear não tenha a mesma proporção de destruição de Chernobyl, acabou despertando a "radiofobia" (medo de ser contaminado por material radioativo) no mundo inteiro. Devido às emissões radioativas, milhares de famílias japonesas tiveram de deixar suas casas. Nem a água potável sobrou, evidenciando o quanto é frágil e perigosa a estrutura de uma operadora nuclear.
O homem é um ser criativo. Constrói milhares de coisas, mas a ambição e a ganância por dinheiro e sucesso individual ocasionam efeitos diretamente devastadores na vida de outras pessoas. Chernobyl e Fukushima deixam um desastroso legado à humanidade: recém-nascidos deformados, proliferação de doenças terríveis e outras somas de dor sem fim. Não há sentimento ou atitude política e econômica capaz de reparar as vidas perdidas. Esta data também serve pra relembrarmos o quanto é ínfimo e limitado o poder humano. É o resultado de um egoísmo cruel, que levou milhares de vidas em troca da acumulação de riqueza. O dia 26 de abril de 2011 marca os 25 anos de um pesadelo criado pelo homem. Pesadelo pensado e mantido por uma inconsequência que ignorou as vidas que estão ao seu lado. A chama devastadora de Chernobyl permanece na lembrança e aprisiona consigo a vida e a morte de suas vítimas.
Por Éderson Silva e Joel Felipe Guindani. Publicado em:
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=639JDB010
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