quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Eiii! Você tem geladeira? Cuidado...!!!


Amigo leitor, amiga leitora!
Ao conversar com um cidadão de nossa redondeza, ouvi-o contar que na infância, vivida na pobreza, a fome existia, mas não completamente. Havia sempre um pouco de farinha, feijão, frutas e hortaliças. "Quem trouxe mais fome foi a geladeira", disse.
Aí comecei a me perguntar: o que tem haver a geladeira com a fome? Mas logo ele continuou:
“O eletrodoméstico (geladeira) impôs à família a necessidade do supérfluo: refrigerantes, sorvetes, iogurtes, hambúrguer e outras frescuras mais. Também, antes não havia a necessidade do acúmulo e da gula. Tudo tinha de ser consumido de um dia para o outro. Isso era bom, pois o egoísmo era menor. Matava-se uma vaquinha e toda a redondeza se alegrava e se alimentava”.
Por isso, creio eu, que vivemos em tempos bem distintos. Hoje, a grande maioria possui ao menos uma geladeira em casa e junto dela, toda essa aura de insatisfação.
Este eletrodoméstico, estando em consonância com a economia de mercado, centrada no lucro e no acumulo, nos submete também ao consumo obsessivo de símbolos. Por exemplo: O valor simbólico da mercadoria figura acima de sua utilidade ou necessidade. Assim, a fome a que se refere o meu amigo é inelutavelmente insaciável. É a fome que nasce dos olhos, despertada incessantemente pelas inúmeras técnicas da publicidade.
Marx já havia se dado conta do peso da geladeira e também da cultura do consumo simbólico. Ele constata que "o valor que cada um possui aos olhos do outro é o valor de seus respectivos bens. Portanto, em si, o ser humano não tem valor, não vale nada." E mais...: "Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência"
Sendo assim, as mercadorias que me revestem e os bens simbólicos que me cercam é que determinam o meu valor social. Desprovido ou despojado deles, perco o valor, condenado ao mundo ignaro da pobreza e à cultura da exclusão.
Hoje em dia, não se compra uma “Calça”, compra-se um “Jeans Colcci”; não se adquire um carro, e sim um AUDI, uma BMW. A roupa pode ser a mais horrorosa possível, porém se traz a assinatura de um famoso estilista ou a etiqueta de uma boa marca, a gata borralheira transforma-se em Cinderela.
E se somos privados desse privilégio, do consumo simbólico, o sentimento de exclusão causa frustração, depressão, infelicidade em muitos casos o suicídio, como vem ocorrendo diariamente em famílias materialmente poderosas.
Com isso, percebemos que o capitalismo de tal modo desumaniza, já não somos apenas consumidores, somos também consumidos, somos a matéria prima; somos estuprados para o prazer de poucos que lucram à custa de nossa idiota fome pela aparência.
Não importa que a pessoa seja imbecil ou ignorante. Revestida de objetos cobiçados, é alçada ao altar dos incensados pela inveja alheia. Ela se torna também objeto, confundida com seus apetrechos e tudo mais que carrega nela: bens, cifrões, cargos etc.
Para finalizar, Frei Beto complementa-me: “Vou com freqüência a livrarias de shoppings. Ao passar diante das lojas e contemplar os veneráveis objetos de consumo, vendedores se acercam indagando se necessito algo. Não, obrigado. Estou apenas fazendo um passeio socrático, respondo. Olham-me intrigados. Então explico:
Sócrates era um filósofo grego que viveu séculos antes de Cristo. Também gostava de passear pelas ruas comerciais de Atenas. E, assediado por vendedores como vocês, respondia: Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz"... Boa Reflexão....e atenção com o essencial...cuidado com a sua geladeira!!!

Fontes de Pesquisa: *Alberto Libânio Christo (Frei Beto). *Luta de classe e luta política. Karl Marx.