quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Aos políticos e eleitores: "Deus é brasileiro?"


Será mesmo que Deus é brasileiro? Quanto às nossas condições ambientais, estou convencido de que Ele, ainda que não seja brasileiro, sem dúvida privilegiou o nosso país: temos dimensões continentais e nenhuma catástrofe natural, como terremoto, furacão, ciclone, tornado, tufão, vulcão, deserto, geleira. A Amazônia ocupa 2/3 de nosso país e conserva 12% da água potável disponível no planeta, sem contar o vasto potencial do Aqüífero Guarani, ainda inexplorado no centro-sul do país. Produzimos todo tipo de alimentos e temos uma área cultivável de 600 milhões de hectares.

Se o Brasil não é o Jardim do Éden a culpa não é de Deus, é dos políticos que elegemos e de nossa inércia diante do estrago que produzem, atuando em favor, não do povo, mas de seus interesses corporativos. Nossa abundante riqueza é injustamente distribuída. Saúde aqui é privilégio de quem dispõe de plano privado; a educação pública está sucateada; jamais conhecemos a reforma agrária; nossas cidades estufam-se de favelas; a desigualdade social é gritante; a violência urbana provoca mais vítimas por ano que a guerra dos EUA ao Iraque.

Deus não pode ser culpado por nada disso. A culpa é de governos que prometem mudanças e, uma vez empossados, deixam tudo como dantes no quartel de Abrantes, restritos a políticas públicas eleitoreiras, incapazes de atacar as causas que promovem tamanhos desníveis sociais. Mudam-se governos, perenizam-se as estruturas injustas.

Deus não tem nacionalidade nem religião, mas tem rosto. Está no capitulo 25 do evangelho de Mateus, versículos 31 a 46: "tive fome e vocês me deram de comer etc." Quem vê o faminto, o desamparado, o enfermo, o migrante, enfim, o excluído, vê Deus. É neles que Deus quer ser visto, servido e cultuado.

Nesse sentido, Deus pode ser visto e servido em qualquer lugar do Brasil, pois toda parte está repleta de gente com fome, desamparada, enferma etc. Deus não é brasileiro, mas esse contingente enorme de excluídos - cerca de 12 milhões de pessoas - é a mais singular imagem e semelhança de Deus, e neles Ele quer ser amado.

Resta saber se estamos dispostos a reconhecer a presença de Deus, não apenas nos benefícios naturais, como poços de petróleo; mas; sobretudo; na face daqueles que, neste país, não escolheram nascer e viver como miseráveis e pobres, desprovidos de condições mínimas de acesso aos bens que asseguram ao ser humano dignidade e felicidade. Na loteria biológica, eles tiveram o azar de engrossar os 2/3 da humanidade que, segundo a ONU, vivem abaixo da linha da pobreza ou, em termos financeiros, com renda mensal inferior a US$ 60.

Se nenhum de nós escolheu a família e a classe social em que nasceu, a loteria biológica é injusta e pesa sobre os premiados uma dívida social. Resta-nos assumi-la para que Deus seja de fato brasileiro: quando todos, enfim, tiverem direito ao "pão nosso" e, assim, proclamarem sem mentira que ele é "Pai/Mãe nosso".

Fonte de pesquisa:adital.org.br/Freibeto

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

AOS 24 ANOS, MST SEGUE NA LUTA


No final da década de 70, a propagação das lutas populares pela abertura política no país, numa conjuntura marcada pelo desemprego no campo e nas cidades, estimulou a retomada das organizações de luta pela terra, na linha de continuidade do legado deixado pelas Ligas Camponesas. É nesse contexto que, entre os dias 20 e 24 de janeiro de 1984, nas dependências do Seminário Diocesano, em Cascavel, Paraná, ocorreu o 1º Encontro Nacional dos Sem Terra.

O Encontro reuniu trabalhadores rurais de 12 estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Bahia, Pará, Goiás, Rondônia, Acre e Roraima, além de representantes da Abra (Associação Brasileira de Reforma Agrária), da CUT (Central Única dos Trabalhadores), do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) e da Pastoral Operária de São Paulo.

A participação destas entidades representou a união de intelectuais, operários, indígenas e trabalhadores rurais em torno de um movimento em defesa dos camponeses sem terra.

Além de apresentar as principais lutas desenvolvidas pelos sem terra e as políticas dos governos locais e federal acerca da questão, os trabalhadores reafirmaram a necessidade da ocupação como uma ferramenta legítima das trabalhadoras e trabalhadores rurais.

Ao final do Encontro, foi lida a mensagem de D. José Gomes, bispo de Chapecó e presidente da CPT (Comissão Pastoral da Terra), de apoio à fundação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST.

Hoje, ao completar 24 anos, o MST entende que seu papel como movimento social é continuar organizando os pobres do campo, conscientizando-os de seus direitos e mobilizando-os para que lutem por mudanças. Nos 24 estados em que o Movimento atua, a luta não é só pela Reforma Agrária, mas pela construção de um projeto popular para o Brasil, baseado na justiça social, na soberania popular e na dignidade humana.

Abaixo, leia o poema do companheiro Pedro Francisco Bagatin, do MST em Cascavel, no Paraná.

MST 24 ANOS

Havia algumas ocupações
Em 1979, Rio Grande do Sul
Mas sem nenhumas preocupações
De se criar um Movimento
Por causa das famílias exploradas
Exploradas em seus trabalhos
Expulsas de suas terras
Por usinas hidrelétricas
O povo não queria ir morar na cidade
Até que em janeiro de 1984
Cascavel Paraná
Partindo da necessidade
Lutando por justiça e pela terra
Surgiu o MST
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
Inicia uma luta pra valer
Durante seus vinte e quatro anos
Tivemos várias conquistas
Foram escolas e assentamentos...
Vários cursos
Resgatemos uma parte de nossa cultura
Uma parte de nossa história
O MST trouxe esperança
Auto-estima para as famílias
Perdemos companheiros
Mas que serviu como força
Para seguirmos em nossa caminhada
Lutando pela terra
Por Reforma Agrária
E pela transformação social
Estamos resgatando A Educação do Campo
É a Pedagogia da Terra
Debatendo com as famílias sem terra
A diferença entre o campo e cidade
Temos nossa própria Escola
É a Itinerante
Mostrando a verdadeira história
Ensinando a partir da realidade
Falta unir o campo e cidade
Se queremos transformar
Unindo forças
Para não ter perigo
O nosso inimigo
Vamos derrubar.