quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Obama, as profecias de Luther King e o relato de Silvia Lorenso. Testemunha ocular!


Martin Luther King, pouco antes de ser assassinado, há quatro décadas, disse uma frase premonitória, que caiu feito luva a Barack Obama na madrugada de quarta (5/11): “Eu cheguei ao topo da montanha e vi o outro lado. Talvez eu não consiga chegar lá, mas você conseguirá”. O ideal de Martin Luther King se tornava realidade naquele momento, em que o menino negro, filho de pai queniano e mãe norte-americana, tornava-se o 44º presidente dos Estados Unidos. (mais detalhes sobre essa reflexão em www.juonline.com.br.


Abaixo, segue o relato de Silvia Lorenso. Testemunha ocular!!!

Espero que estajam bem.

É interessante falar a partir desse lugar geográfico daqui, o olho do furacao para o mundo, o espaço que mais parece a casa do big brother, onde o mundo todo está "dando uma espiadinha".

É um risco ser contaminada com um excesso de celebração, mas é impossível não expressar a satisfação de estar vivendo esse momento, de conversar com as pessoas - negros e brancos - e ouvir seus comentários, seus choros, as risadas.
A frase que mais escutei ontem e hoje de estadunidenses/as é que eles/as pela primeira vez têm orgulho do país, que, pela primeira vez, bateu uma pontinha de patriotismo.
Quando cheguei aqui, encontrei pessoas que tinham vergonha do país, do presidente, da guerra, do imperialismo- e nao era para menos e, apesar de viver o privilégio na sua abundância, essas pessoas pareceiam fracas, sem ação, minadas por dentro. Fiquei impressionada com a fala das pessoas, falas quase suicidas. Alguns diziam que se McCain ganhasse iriam procurar outro país para viver porque já nao era possível viver sob essa sombra de Bush e o que ela representa.

Por outro lado, há um sem número de senhoras bem idosas, negras, dizendo o quão estão felizes com o fato de guardar na memória imagens da família negra de Obama ao lado de imagens de linchamentos. Uma das coisas mais bonitas desde que cheguei foi participar de um concerto de Maya Angelou, a querida poeta negra, cuja fala dividia risos e choro da platéia. Maya Angelou contou sua infância e todas as coisas que a fizeram ser a pessoa que é hoje. Ela contruiu a metáfora do arco-íris que atravessa nuvem - "the rainbows in my cloud" - ela diz. E disse que há momentos e situações que nos oferecem a oportunidade de pensar a nossa condição humana. Ela menciona Barack Obama como um desses momentos.
Pede cuidado para que nao esperemos dele o que nao foi feito em anos por outros governos, que esperemos um pouco e que acima de tudo, fiquemos na torcida de que haja, de fato, condições de governabilidade.
Hoje pela manhã, Maya Angelou foi entrevistada e a reporter pediu para que ela enviasse uma mensagem para Obama. Ela disse: "Thank you, Thank you, Thank you!"
Obrigada por nos dar a chance de sermos pessoas melhores, pelo menos por algum tempo.

Mais tarde, acessei a Rádio Itatiaia, de MG, para ouvir o que as pessoas estavam comentando a respeito. Ouvi um comentário de Alexandre Garcia e agradeci aos orixás a capacidade de entender outro idioma além do Português. Alexandre comentava a fala de Lula; aquela em que ele comenta o que Obama representa para os EUA, o Chavez para a Venezuela, ele para o Brasil, e o Evo Morales para a Bolívia. O tom de Alexandre foi muito desrspeitoso, apenas para variar nao é?

De modo que, tento manter um pé aqui e outro no Brasil quanto à coleta de informações porque o que a mídia e seus comentaristas brasileiros fazem é filtrar muita coisa e postar análises que nada têm de neutras. O mesmo email que vocês receberam (com as fotos) foi enviado a outras pessoas. Uma pessoa respondeu dizendo, de maneira muito ofensiva, que é apenas brasileiro (com as palavras em caixa e muitas exclamações).
O que fazer? Nao sou extremista a ponto de dizer que Obama é tudo, ou que ele nao é nada. Ele marca um momento importante no capítulo da história. Pode vir a se consolidar como um político cuja imagem é mais limpa e melhor que a imagem do império americano, a exemplo de Lula em relaçao ao PT ou ao governo? pode. Pode cair no desgosto popular daqui a um ano? pode também.
Pra mim, é muito válido o espaço da outra margem. Minutos atrás liguei para a casa de minha mãe, em Belo Horizonte, e meu sobrinho de onze anos atendeu. A primeira coisa que ele perguntou:
"E o Obama, foi eleito né? Isso é bom, não é? Você está feliz?" Na sequência, minha mãe pegou o telefone e disse: "muita gente comentou sobre o Obama hoje comigo, e eu acredito que ele vai fazer muita coisa para os negros e os pobres. Quem sabe aqui nao fazem o mesmo, né?" Meu sobrinho e minha mão são apenas personagens comuns do dia-a-dia das periferias brasileiras. Se Obama os inspira a pensar o mundo e a se colocarem nele a partir de suas experiências, só por isso ele já tá valendo.

Sílvia

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Internet: um espaço para se ocupar, produzir e transmitir!



A Internet isola, aliena, leva à depressão, ao suicídio, enfim, a toda a espécie de coisas horríveis? Ou pelo contrário: a Internet é um mundo fantástico de liberdades, de novas interações, novas amizades, onde todos se amam e formam inúmeras comunidades?

Creio que temos ainda mais dúvidas do que respostas. Até mesmo os poucos estudos já realizados não convergem para um único caminho (Morais 2006). Ambos trafegam em algum dos extremos: a Internet aliena por um lado, mas liberta por outro. O que de fato é indiscutível é que de alguma maneira o advento da Internet trouxe consigo novas potencialidades que vão para além da esfera ou da ordem individual,de um ciclo limitado de pessoas: "A internet revela-se como espaço de socialização do conhecimento e de novas configurações para o convívio social."(Bretas 2006). É por essa ótica que pretendo desenvolver a reflexão que segue.

Por um longo período de nossa exitência, as formas de contato humano estendiam-se no espaço limitado do “ver”, do poder “tocar” e do “sentir” fisicamente. Percebe-se que o contato físico era o condicionante propulsor de nosso universo societário. As formas de interação social limitavam-se na esfera do “face-a-face” ou em conexões sociais estabelecidas somente em circunstancias de “co-presença” como salienta Giddens (2003). A vida cotidiana, arraigada na co-presença, do contato “olho-no-olho” foi, até certo período, a única forma de efetivação ou exercício de nossa sociabilidade.
Com a chegada da Internet acontece uma expressiva reconfiguração nesta realidade até então mais estável, previsível e delimitada. A emergência desse meio de comunicação congregou inéditas possibilidades de interação social até então jamais vivenciada por qualquer época humana.

Atualmete, nossas vidas são tecidas em uma nova sociabilidade, agora também sócio-técnica, à distância, onde as fronteiras e limites impostos pela nossa condição humana abrem espaço para novos alargamentos de possibilidade infinita.
O que por vezes, na condição face-a-face, limitava nossa curiosidade de transcender, de ir além do que prevíamos ser possível, pode ser facilmente rompida num piscar de olhos ou num “clicar” como nos sugere tal ferramenta. O que até então somente poderia ser conhecido através da interação humana ganha um aditivo rápido e quase instantâneo. Eis o esplendor deste meio de comunicação, que ao avanço dos tempos não se torna apenas uma tecnologia, instrumento ou extensão puramente mecânica: “a tecnologia, remete hoje, não a alguns aparelhos, mas, sim, a novos modos de percepção e de linguagem, a novas sensibilidades e escritas” diz Martín-Barbero.(2006).

Para Manuel Castells (2003), referindo-se especificamente a Internet, “esta tecnologia é mais que uma tecnologia”, dela emana múltiplas possibilidades que instauram novas dependências, as quais vão se transmutando geneticamente em nossa forma de ser e de viver. Basta imaginarmos o caos humano se a conexão “WWW” (World Wide Web) fosse interrompida. Certamente não apenas os fluxos financeiros colapsariam, como também toda a sociabilidade passaria por conseqüências imprevisíveis. Mesmo aqueles que não possuem o acesso à Internet estariam recebendo em seus aparelhos de rádio, TV etc., notícias nada agradáveis.


Outra reflexão importante diz respeito aos muitos movimentos sociais de massa que emergiram e ganharam novo fôlego a partir das potencialidades oferecidas pela Internet. Em meados da década de 1990 o movimento Zapatista mexicano mobilizou a imaginação popular pelo mundo todo, congregando apoio para sua causa através das redes eletrônicas. Da mesma forma, novos movimentos surgem, agregando adeptos em todos os continentes, disparando gritos de ordem através de torpedos instantâneos via celular ou scrap etc.

Se no ciberespaço nascem os militantes virtuais, descaracterizados de uma ação real como criticam alguns estudiosos, temos que considerar por outro lado, que muitos movimentos sociais - mesmo os avessos ou descrentes das potencialidades revolucionarias da Internet – expandem-se e movimentam-se hoje por um espaço ate então regulado e legislado por uma minoria: o espectro televisivo e radiofônico.

Para finalizar, ressalto a importância de que a Internet é a maior potencialidade de conexão do ´local´ com o ´global´. A qualquer hora e de qualquer lugar podemos reverberar pelo mundo sonhos que até então não cruzavam certas barreiras. Ações locais ganham peso e maior capacidade de dispersão, fazendo, como salienta Foucault (1996), com que o poder não se concentre em apenas um lugar ou em uma única fonte.

Vai-se aos poucos um tempo onde vozes eram facilmente caladas por regimes selvagens de censura. Por isso, sou otimista em crer que aos poucos a Internet irá se consolidando como espaço onde a liberdade de expressão também possa fluir em sua forma mais autêntica e legítima possível. Gianni Vatimo ( 2003) reforça a tese de que a internet pode também ser um espaço para se fortificar o envolvimento e a pertença entre sujeitos. A internet deve ser, diz ele, "uma comunicação em que seja cada vez mais intenso o sentimento de comunidade de sujeitos que nela se encontram envolvidos".

Neste tempo de Internet, muitas dúvidas nascem da mesma forma que se multiplicam os espaços de discussão, de difusão da critica e de mobilização contra tudo aquilo que oprime a condição humana. Creio também, que pouco conhecemos do muito que a internet transformou e pode transformar ... Enfim, vamos adiante, à frente, estudando, ocupando, produzindo e transmitindo ideais de vida através deste espaço que nos projeta para o mundo