quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Você é fruto de suas escolhas?


O que sustenta e dá alicerce à nossa espécie humana é a singularidade enquanto um “ser que pensa”. Somos da espécie que “Pensa logo existe” como queria o Filósofo Descartes. Além disso, somos “Homo Sapiens, Sapiens”, ou seja: seres conscientes do seu saber.
Temos, até certo ponto, o domínio de nossas ações através da racionalidade. Porém, não somos tão redutíveis a um simples sistema lógico-racional. Existe o lado obscuro de nossa espécie como estuda e afirma a Psicanálise. Lembro-me agora de alguns simples dizeres que ressalvam a nossa complexidade existencial, como por exemplo: Somos aquilo que sonhamos e assim por diante...
É notório que vivemos em um período existencial nada generoso para com essa nossa subjetividade, para com a nossa parte livre, desejável e sonhadora. A cada instante, somos interpelados por situações inesperadas, as quais nos exigem tomadas de decisão e opções cada vez mais precisas e perfeitas: o errar já não é mais tolerável ou humanamente aceito. Isto vale para todas as instâncias da vida, seja ela pessoal, social; profissional ou afetiva...
Em conversa com uma amiga, especialista em RH (Recursos Humanos), a mesma afirmava que o mercado atual necessita de pessoas dotadas com capacidade de “agir rapidamente”, pessoas que tomem decisões cada vez mais a curto prazo: Tudo o que o patrão precisa nunca é para o amanhã, mas sim sempre para o ontem!
Isto se deve também ao avanço das tecnologias da informação, principalmente a internet, a qual através de um simples “click” resolve problemas, tranqüilizando a inquietação causada pela incerteza e pela dúvida. Enfim, como nadamos na correnteza do mercado e convivemos com estas tecnologias, vamos também nos moldando de acordo com seus cursos e necessidades. Com isso, a nossa subjetividade interior vai se tornando técnica e superficial, de acordo com as tendências comerciais.
Sendo assim, podemos nos questionar: Até que ponto somos o resultado das “Nossas escolhas”? Não pretendo aqui definir verdades acerca de um questionamento que é antes um processo pessoal. Porém, um substrato comum, é quanto à realidade que co-habitamos. A nossa casa comum, lugar onde cristalizamos os sonhos é antes um meio pré-existente. Como dizia o inglês George Orwell (1984), “fomos abraçados por sistemas inteiros, criados para controlar não somente as atividades, mas os nossos próprios pensamentos e sonhos”.
Creio eu, que desde o útero materno fomos sendo moldados de acordo com os valores e costumes pré-estabelecidos. Aos poucos fomos sendo pintados. Muitos foram e são os pintores: pais, avós, instituições como a igreja, escola e atualmente a mídia. Em meio a tudo isso nos questionamos: Quem realmente somos? Rubem Alves afirma que: “Somos o intervalo entre o nosso desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de nós”.
Porém, carregamos a esperança de sermos mais do que isso, afinal não nascemos prontos e embalados. As possibilidades de nossas opções futuras contém em si as mesmas possibilidades de serem o reflexo dos nossos sonhos ou desejos mais profundos, distantes assim de um querer ou desejo tão alheio.
Na questão profissional, espero que estes sonhos e desejos não sejam simplesmente queimados como um combustível necessário para locomover um sistema produtivo, que gera riqueza e tranqüilidade à sua minoria proprietária.
Um sinal de uma opção impessoal é quando o fruto de nossas escolhas não gera a própria satisfação. Por aí, tem muito “Puro Sangue puxando carroça” como canta Humberto Gessinger. Enquanto isso vamos à luta, iluminados pela ousadia do “nosso querer”, procurando sermos sempre maiores que os nossos sonhos!!!

Os Políticos do nosso "Coração"


Em nossa região, falar de política partidária está sendo cada vez mais desafiador. Há um bom tempo atrás você ainda tinha possibilidades de seguir uma linha crítica a respeito de algum político específico, pois a sua identidade e firmeza ideológica lhe proporcionava certo campo de distinção frente aos demais.
No entanto, podemos perceber que essa “identidade ou firmeza ideológica” que o político assumia foi aos poucos desaparecendo.
Podemos até dizer que já não se fazem ou elegem mais políticos como antigamente, os de pulso firme, aqueles que possuíam uma personalidade e postura não somente em discurso, mas também em atitudes. A distinção era explicita e se sabia que os políticos “vermelhos” andavam á frente e junto ao povo e que os “azuis” eram à frente de uma classe minoritária e historicamente privilegiada.
Essa dificuldade de se distinguir um político de outro é devido à superficialidade ideológica partidária que fixa raízes há muito tempo aqui em nossa região. Falo aqui dos políticos eleitos, dos que já tiveram a oportunidade. Segundo Maffesoli*, sociólogo francês, o político se estrutura cada vez mais na razão monovalente, em uma única visão linear que não abre espaço ou não comporta mais a pluralidade da vida social, que é a sua base. Em nossa realidade é assim também, pois nada pode escapar da monofonia ditadora que sobe de maneira exclusiva da capital.
Parece que tudo já está traçado e embalado para o próximo 03 de Outubro. Um exemplo disso são as pesquisas encomendadas que rolam por aí. Nesta semana, fui abordado na rua por um agente de pesquisa eleitoral que me induzia a escolher respostas prontas. Eram nomes de possíveis candidatos com suas coligações. Fiquei perdido quanto à resposta, pois jamais imaginaria que seria possível misturar o vinagre com o azeite. Com isso, concluí que se variavam os nomes, mas a estrutura ideológica permanece a mesma.
Isso é uma prova de que para as amarras políticas de nossa região nada é impossível, afinal ninguém quer deixar o poder tão fácil. Quando se enfraquece aqui, busca-se o equilíbrio ali, e assim vai se compondo a tradicional salada de frutas, com um sabor tuti-fruti, você engole o todo, mas não identifica mais com precisão o sabor de cada uma das frutas. Somente quem prepara tem uma leve percepção dos ingredientes, e quando questionado sobre a receita, incorpora o camaleão, afirmando que coligações são naturais e necessárias. Há desquites, separações partidárias, mas isso não passa de briguinhas pelo poder interno, nada que se considere ou que se amplie numa divergência político-ideológica de fato.
O que mais me preocupa é que devido à correria pela sobrevivência a grande maioria do povo se vê limitado a essa mesmice. Dentro dessa busca pela aliança entre os partidos, percebe-se a lógica maquiavélica, onde “os fins justificam os meios”. É lógica a certeza de que quem se remete à busca de qualquer parceiro para sobreviver, isso condiz a um conceito: o de prostituição.
Fiquemos de olho nos engravatados que sobem da capital para o nosso meio oeste, buscando reduzir a riqueza de nossa política à voracidade e ganância de seus interesses pessoais.

Fonte de pesquisa: *MAFFESOLI, M. A Transfiguração do Político. Porto Alegre: Sulina, 2005.

Mortes do Vôo da TAM: 189. Mortes diárias causadas pela fome: 24 mil!


É evidente e justa a compaixão do povo brasileiro para com as vítimas da tragédia do Vôo 3054 da TAM. Aparentemente, a mídia se mostrou um poço de sensibilidade concedendo um total espaço ao fato ocorrido. Porém não sejamos ingênuos! O aumento da audiência, devido à tragédia, também proporcionou a essa mesma mídia um faturamento ainda maior.
Há muito tempo, a pauta dos grandes veículos de comunicação vem sendo orientada pela crise do setor aéreo. São as câmeras flagrando a irritação, o desconforto das pessoas dormindo nos bancos, reclamando impaciente pelos atrasos ou cancelamentos...
Um dos angustiantes apelos televisados foi o de uma linda jovem que teve dois dias de suas férias atrasados por motivo de cancelamento de um vôo: Ela ia fazer compras em Las Vegas nos EUA.
Através das palavras desta jovem, indignada por não satisfazer o seu mundo “Dionisíaco”, do prazer; percebemos que a crise aérea afeta principalmente a uma classe específica. Não estou generalizando, pois em algum momento, alguém da classe pobre já viajou ou irá viajar de avião. Porém, está probabilidade é bem remota à grande maioria que mal apenas tem a sorte de uma carona para se locomover.
Enquanto isso, as atenções e os investimentos se voltam ao setor aéreo. É necessário o investimento neste setor, porém, que tenhamos a sensibilidade para com um número maior de vidas, afinal, por dia são 24 mil pessoas morrendo por conseqüência da fome no mundo. Essas mortes são reais mesmo não sendo mostradas pela TV.
Que possamos abrir os olhos e cobrarmos investimentos de acordo com as necessidades mais urgentes. Frei Beto nos aponta algumas saídas: “No Brasil, reduzir o analfabetismo entre mulheres em apenas 1% equivale a evitar 415 mortes por ano. Aumentar em 1% a rede de esgoto significa evitar 216 mortes/ano. Se o número de casas que recebem água tratada aumenta 1%, 108 mortes são evitadas/ano. E se o número de leitos nos hospitais aumenta 1%, 27 mortes são evitadas/ano. Os dados são do estudo de Mário Mendonça e Ronaldo Motta, Saúde e Saneamento no Brasil, Ipea, 2005”. (Fonte: www.adital.org.br)
Enquanto isso vamos à luta... Estamos juntos neste mesmo avião, dos impostos e taxas, mas também do direito a uma vida com mais tranqüilidade e esperança!!!

Vivemos para a vida ou para a morte?


Nestes tempos, alguns fatos me levaram a refletir sobre a relação vida e morte. Em um mesmo momento rememorava o primeiro ano de falecimento de um grande amigo (Antonio Zamboni) e também recebia a triste notícia do trágico falecimento de uma amiga (Kaline Coradi), ex-residente em Sede Belém. Ambos jovens, vítimas de acidente automobilístico.
Quando tocamos neste assunto, logo nos vem o sentimento de repulsa, como que se isso fosse alheio à nossa realidade. Por outro lado, estabelecemos uma proximidade com a morte desde os primeiros indícios de nossa vida, pois não há vida fora da morte como não há morte fora da vida!
A morte está tão próxima de nós que acaba se tornando um dos melhores argumentos quando se falta assunto numa roda de conversa. Além de se falar sobre as condições do tempo (Será que chove, será que faz sol?), a morte e a tragédia sempre aparecem (Nossa!!! você soube daquele acidente, daquela morte?) fazendo se espichar o papo...
Por este motivo que a maioria dos conteúdos midiáticos estão vermelhos de sangue, mesmo sendo friamente espetácularizado por parte do veículo transmissor, objetivando simplesmente o lucro gerado pela audiência.
Mesmo em nossa cultura religiosa, o espanto para com a morte sempre se fez mais presente do que admiração para com a beleza da vida. Temos alguns exemplos: Na Páscoa, a programação é extensa, a igreja se torna pequena, porém, no dia 25 de Dezembro a mesma igreja se torna mais aconchegante e espaçosa. Uma outra prova disso, principalmente nas comunidades do interior, é o fato de se tocar o sino quando alguém morre, no entanto, quando há um nascimento os sinos silenciam-se. As juras conjugais seladas ao pé do altar também encontram o seu natural encerramento neste fenômeno: “até que a morte os separe”, mesmo se acreditando em vida eterna.
Podemos também identificar dois tipos de morte que rondam a nossa existência.
A primeira é morte impactante, aquela que apaga a luz da vida num instante. É o impiedoso ponto final. A morte de fato. Aquela que nos ataca repentinamente.
Por outro lado, detectamos também a morte de cada dia. Aquela que vai corroendo aos poucos, pelas beiras. Seria uma espécie de morte paulatina, nos possibilitando certa margem de reação. Não me refiro aqui somente à questão da morte física ou o inevitável envelhecimento, mas acima de tudo aquela morte que não se torna tão perceptível aos nossos olhos. Cito algumas:
Para a consolidação de uma cultura patriarcal e machista, quantas mulheres que lentamente morriam ou ainda morrem para a satisfação dos desejos de um homem, se limitando a clausura dos afazeres domésticos através da submissão, sem poder jamais vivenciar ou experimentar a docilidade das suas potencialidades?
Em nossos dias, quantos são aqueles que morrem lentamente vítimas do abuso dos patrões, em jornadas massacrantes de trabalho? Ou por outro lado, quantos são aqueles que morrem lentamente vítimas de um padrão de vida e de consumo (status quo), sempre atormentados pela insatisfação e angústia gerada a cada novo lançamento de grife ou marca?
Enquanto isso vamos à luta, vivendo de maneira significante não somente ao nosso “mundinho”, mas sim ao maior número de outras vidas possíveis. Quanto à morte enquanto fim da vida, não nos preocupemos tanto assim. O filósofo Nietzsche nos tranqüiliza, pois: “Onde a morte está já não estamos mais...Onde estamos a morte não está”. Façamos de nossas vidas uma esperança, pois esta é a ultima que morre...Coragem e força de vida à todos nós...

Movimento “CANSEI”: Os analfabetos políticos do Brasil!


Este tal de “Cansei” é o mais imbecil e contraditório movimento social dos últimos tempos. Por alto, observamos que os participantes deste movimento são provenientes da classe abastada e historicamente privilegiada de nosso país.
São eles: Alguns advogados “conservadores”, dizendo-se a totalidade da OAB-SP, Sindicatos “Elitistas” e “Patronais”, dirigentes de grandes “multinacionais” como Paulo Zottolo da Philips, com seu salário anual de R$ 2 milhões, artistas bem maquiados como “Hebe” e o “Padre Antonio Maria”. Inclusive a classe política como notórios defensores “tucanos e demos”.
O presidente da Philips, um dos líderes do “Cansei”, em entrevista ao jornal econômico, não conseguiu esconder sua visão excludente e etnocêntrica ao afirmar que: “Se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado". Eis aí, explícito neste discurso a essência deste movimento, que busca estabelecer-se com ar de superioridade social, subjugando ainda mais sob seus pés a classe trabalhadora.
O que mais revolta é observar pessoas, sem conhecimento dessa realidade, continuarem sendo favoráveis a eles, reforçando as ações desses lobos transvertidos em cordeiro. Inclusive, a grande mídia se posiciona á favor, dando amplo espaço, pois no final sempre tira o seu jabá.
O “Cansei” é a expressão popular de uma parcela politicamente ignorante de nossa sociedade. O Próprio título de uma matéria do site UOL denuncia a baixaria destes ditos “cansados”: “Movimento 'Cansei' reúne grifes, sendo um protesto diferente, com direito a fotógrafos da revista de celebridades Caras, equipe do programa "TV Fama", bolsas Prada e óculos Dior para as mulheres e blazer com abotoaduras, gel no cabelo e colarinho branco para os homens”. Até mesmo o vice-governador de São Paulo não se conteve, afirmando que este “é um movimento de “dondocas”. (Fonte: www.uol.com.br)
A elite brasileira do “Cansei”, contradiz-se ainda mais com essa atitude. Como pode o próprio assassino chorar pela morte da vítima? Como pode uma classe gritar por Paz e Igualdade sendo que é ela própria que origina a crescente desigualdade social e a miséria?
Quem, por mérito, deveria estar no lugar deles seriam os verdadeiros “cansados”: operários das grandes e milionárias empresas, donas de casa, professores massacrados pela insignificante remuneração, idosos humilhados pelo salário e pelo sistema público.
Devemos reprovar esse bando de analfabetos políticos. Estes que segundo o poeta alemão Bertolt Brecht não sabe o custo da vida, o preço do feijão, da farinha e do remédio. São desses imbecis políticos que nasce a violência, os menores abandonados e o grito dos pequenos agricultores que tentam sobreviver diante de tanta exploração. Enquanto isso vamos à luta, somando a nossa força num mesmo ideal.

“O CONTESTADO”: Isso sim explica a nossa realidade!


Com os ingressos sempre na pindaíba, a Peça teatral “O Contestado” proporcionou à nossa região fortes momentos de emoção... Esta oportunidade fez emergir uma enorme força, capaz de reacender inúmeros e diversos sentimentos no publico presente. Além de ser um rico resgate histórico, “O Contestado” instigou-me a algumas reflexões acerca de nossa realidade enquanto meio oeste catarinense.
Sabemos que a desigualdade social, evidente aqui em nossa região, não é fruto de uma lógica simplista, ou do por que “Deus quis assim”. A violência que prende e divide o ser humano entre muros e grades, bons e maus, possui sua gênese em fatos mais do que reais e não em razões metafísicas, distantes da ação humana como julga o senso comum.
Jamais existe realidade ou vida atual sem antes ser ela o resultado de elementos históricos.
Até mesmo o discurso da minoria rica, “Meu capital é fruto do meu suor” se evapora se posto em paridade com os fatos do nosso passado.
Os bugres, os jagunços da Guerra do Contestado, massacrados pelos coronéis e políticos da época, ainda continuam vivos no sangue de muita gente por aqui. Espoliados e “pinchados” na base de tiros e torturas, estes pequenos agricultores viram seus pedaços de vida serem concedidos aos políticos e depois virarem lucro de uma empresa norte americana.


Rubem Alves: Tenho direito à terra como tenho direito ao meu próprio corpo: por que ao corpo, o corpo pertence à terra...E até dei ordens para ser cremado, quando morrer, e minhas cinzas serem colocadas na raiz de um Ipê amarelo...É que tenho claustrofobia aos túmulos, e desejo ser devolvido à circulação de fertilidade..Que meu corpo fique Semente... Direito à terra: o problema está em onde se colocam as cercas...Claro que as cercas são necessárias. A pele é uma primeira cerca, depois a roupa, a casa...Mas há aqueles que fincam cercas para além dos limites da necessidade do seu corpo... Um latifúndio é formado com a carne de todos aqueles que são deixados de fora dele...Mas quando a terra é algo mais do que o corpo necessita ela deixa de ser vida e se transforma em lucro...em sobras...em aquilo que não foi consumido pela vida.... Assim a terra perde a sua sacralidade e passa a ser uma extensão do Banco.. Transformam-se em demônios..Daí a violência...