quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Manual do candidato


Amigo leitor ... Amiga Leitora... O ano eleitoral chegou... Por isso meus caros candidatos (as), aqui vão algumas dicas...
Tratem-se de se apresentarem muito bem preparados para os discursos ou enrrolações.
Numa campanha eleitoral, você deve se dedicar a obter o apoio dos amigos e o apreço do povo. Deve constituir amizades de todos os tipos: para ter uma boa imagem, ande com homens de carreira e nomes ilustres (os quais, mesmo se não têm interesse em declarar seu voto, ainda assim conferem prestígio ao candidato); e para garantir a proteção da lei, magistrados, juízes, delegados etc etc....
Três coisas levam os homens a se sentirem cativados e dispostos a dar o apoio eleitoral à você: um favor, uma esperança ou a simpatia espontânea. Graças aos mais insignificantes favores, as pessoas são levadas a julgar que há motivo suficiente para declarar seu apoio.
Quanto aos que são atraídos pela esperança, aja de modo a parecer pronto e disposto a prestar ajuda, e também de forma a perceberem que você é um observador cuidadoso das tarefas executadas por eles.
O terceiro tipo é o apoio espontâneo, que será preciso consolidar expressando agradecimentos, adaptando os discursos aos argumentos que parecem seduzir cada adepto isoladamente, dando mostras de retribuir-lhes a mesma simpatia, sugerindo que a amizade pode transformar-se em íntima e habitual.
No “enrolar” e desenrolar da campanha eleitoral, inúmeras e utilíssimas amizades são adquiridas, porque, apesar de seus muitos inconvenientes, ser candidato tem isso de bom: você pode, de maneira honesta - o que é impossível no resto da vida - atrair à amizade todos que quiser.
Volte sua atenção para a cidade inteira, todas as associações, todos os distritos e bairros. Se você atrair à amizade seus líderes, facilmente terá nas mãos, graças a eles, a multidão restante.
Rastreie, vá ao encalço de homens de toda e qualquer região, passe a conhecê-los, cultive e fortaleça a amizade, cuide para que, em suas respectivas localidades, cabalem votos para você e defendam sua causa como se fossem eles os próprios candidatos.
Convença-se de que você deve ensaiar, até que pareça agir naturalmente; com efeito, não lhe falta a cortesia apropriada a um homem bom e gentil.
Outro conselho diz respeito a um pedido ao qual não seja capaz de atender: nesse caso, negue de modo simpático ou, então, não negue de jeito nenhum; a primeira atitude é de um bom homem; a segunda, de um bom candidato.
Todas as pessoas, no íntimo, preferem uma mentira a uma recusa...Não haja com a verdade todas as vezes... Cuide para que sua campanha inteira seja repleta de pompa, que seja brilhante, esplêndida e popular, que tenha uma imagem e um prestígio insuperáveis.
E também, nesta eleição, deve-se acima de tudo ficar atento e gerar uma esperança otimista na política, bem como uma opinião honorável a seu respeito. Como o maior de todos os vícios da sociedade reside no fato de que, quando entram em campo a corrupção e o suborno, ela costuma esquecer-se da moral e da dignidade, trate de se conhecer bem, isto é, perceba que você é quem pode provocar em seus concorrentes o mais intenso pavor de um processo e uma condenação. Faça com que eles saibam que os vigia e os observa.
Desejo que este manual às eleições seja considerado perfeito sob todo e qualquer ponto de vista...
*Nota do Autor: Não há, no texto acima, uma palavra de minha autoria. Foi escrito por Cícero, em Roma, há 2064 anos, e endereçado a seu irmão, Marco Cícero, candidato, em 63 a.C., ao mais alto cargo da república, o de cônsul, equivalente ao de nosso presidente... Desde já, uma boa campanha! E a você eleitor, mais do que sorte!

Fonte de pesquisa: Frei Beto.