sexta-feira, 2 de maio de 2008

Um bate papo com Frei Beto...Como vai a nossa realidade?


Assim iniciou a conversa: Para onde caminha a humanidade?

Esta indagação não pode ser respondida sem termos como central os meios de comunicação, em especial aqui a TV, seus conteúdos, produção e recepção. Mesmo sendo desgastante aos ouvidos, falar do conteúdo é sobrepor à utilidade instrumental e tecnológica deste meio.
Sem muito quebra cabeça adentramos ao popular conteúdo: Big Brother Brasil 8. Um programa especial, onde o faturamento diário ultrapassava facilmente os R$ 8 Milhões. O fenômeno parece ser de outro mundo; é fantástica a façanha de se conseguir tamanha quantia de dinheiro em tão pouco tempo; mobilizando mais de 72 milhões de ligações em uma única noite.
Segundo Frei Beto, “este meio nos toca através dos cinco sentidos”; tudo acrescenta à nossa busca por entretenimento, menos à nossa cultura e à nossa espiritualidade. “a cultura toca o interior, mas não dá ibope. Experimente veicular na mesma hora um recital de poesias para ver aonde vai a audiência”, diz ele.
O entretenimento compensa as nossas carências, ameniza o vazio que no pega após a sacies de um prato fino, após os momentos de adoração das materialidades ou de uma noite de prazer sem compromissos. Para não se embebedar, estes conteúdos compensam o esquecimento necessário, proporciona risos, a alienação do real, da solidão.
Abaixo dessa questão, encontra-se o pano de fundo. Vivemos atualmente uma mudança de época que foi vivenciada somente há 500 anos, introduzidas pelas idéias de Copérnico, Newton e Descartes.
De acordo com Frei Beto, a “aste” central que segura a lona do circo está fragilizada. Esta “aste” central seria o nosso paradigma, onde até então,manifestava-se através do poder da razão e da ciência, tentando responder e resolver todas as inquietações e necessidades humanas.
Estaríamos hoje na outra ponta da modernidade; de uma nova ruptura com este paradigma que fracassou, concentrando poder e conduzindo 75% da população abaixo da linha da pobreza. Somente para os 25% da população, os advindos da “loteria biológica”, este sistema deu certo.
Porém como enfatiza Viser em seu livro, mídia e movimentos sociais, “não sabemos se o paradigma desta nova sociedade (da informação, do conhecimento, da comunicação) promoverá mais desigualdade e mais concentração de poder, ou se alcançara distribuir mais equitativamente os recursos que asseguram um acesso mais igualitário a melhores condições de vida compartilhadas por toda a sociedade”.
Após 500 anos, segundo Frei Beto, adentramos na Pós-Modernidade. Seguindo o curso histórico, partindo da Fé para a Razão, olhamos e sentimos o mundo hoje através do Mercado: fora do mercado não há vida, não há salvação.
As nossas catedrais são os Shoppings Center’s. Vamos ao Shoppings com a roupa que antes íamos à missa. No interior dos shoppings não há violência, cheiro de esgoto; tudo é plasticamente perfeito e agradável ao espírito que ainda clama por beleza.
O paradigma do mercado atravessa a nossa existência. Os campos sociais sentem-se à deriva das águas deste paradigma.
O jornalismo e a informação tornam-se moeda de troca, meios e fins para o mercado. O caso Isabela tornasse um conteúdo bem produzido, um show capaz de aumentar o prazer de se “ver TV”, e por esta via, de se consumir o que dela sair às ordens do mercado.
Finalizando, Frei Beto falou sobre a filosofia que norteia e permeia esse novo paradigma social: o neoliberalismo; o qual busca destruir a cidadania e a comunidade nos transformando em consumidores individuais. A recompensa é a “aura” que nos reveste os bens do mercado. (qual a diferença em se chegar de ônibus ou de BWM na casa da namorada?)
Outra pretensão do mercado através de sua filosofia é a de estimular o cultivo da imagem. Como nos instigava a propaganda do guaraná Kuat,: Sede não é nada, imagem é tudo!
Parecer-se eternamente jovem é a nova ordem do sucesso e da paz consigo e com os outros. Não é a toa que atualmente as academias são mais freqüentadas que as livrarias.
Alimentando incessantemente este paradigma de pensamento, de modo correto de vida e de pensamento estão os meios de comunicação. Concentrados em “feudos midiáticos”, centralizando as decisões do que pode ou não ser verdadeiro e relevante para a realidade.
Para Frei Beto, devemos lutar por uma isonomia informativa, onde o sofrimento da maioria da população seja também notícia e tema central da discussão pública. Que as leis do mercado não tomem o espaço ou sejam mais importantes que o assassinato de nove trabalhadores, que na mesma noite eram esquecidos pelas câmeras que mergulhavam exclusivamente no “show-caso Isabela.”