sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Problematizando a teoria da midiatização



De maneira ampla, iniciamos a discussão pelos pressupostos teóricos da midiatização sem, no entanto, tomá-la como “a única forma estruturante das sociedades contemporâneas ou como matriz explicativa da totalidade de seu funcionamento (COGO, 2004, p.143).

A perspectiva da sociedade em vias de midiatização caracteriza-se pela inter-relação entre instituições, práticas sociais e meios de comunicação, não havendo, nesse sentido, a intenção de privilegiar apenas a dimensão tecnológica, pois tratamos, neste caso (projeto de pesquisa doutorado), além dos processos midiáticos, também sobre os processos comunicacionais.

Certamente que a evolução dos meios de comunicação vai configurando a nossa realidade, a qual também vai se caracterizando como uma sociedade midiatizada, onde as possibilidades de interação social entre indivíduos e instituições estariam de alguma forma, transpassados ou relacionados com algum suporte tecnológico de comunicação.

Com ressalvas, Braga (2006) destaca que ao observarmos as formas de sociabilidade atravessadas por suportes tecnológicos, devemos, antes de tudo, considerar os processos anteriores desenvolvidos pela dimensão criativa dos sujeitos envolvidos. Para ele a sociedade não apenas produz sua realidade através das interações sociais a que se entrega, mas igualmente produz os próprios processos interacionais que utiliza para elaborar a sua realidade – progressivamente e a partir de expectativas geradas nas construções sociais anteriores (BRAGA 2006, p. 145)

Mesmo reconhecendo que há realidades sociais onde a midiatização responsabiliza-se por todas as mediações sociais ou que regula a relação indivíduo com o mundo e com seus pares (PAIVA, 2005), cremos que a midiatização se caracteriza através de “diversos mecanismos, segundo os setores da prática social, produzindo, distintas conseqüências (VERÓN, 1997, p.9)”, ou seja, a sua incidência sobre a realidade não se dá de maneira uniforme e direta, mas sim de maneira complexa, transversal e relacional (FAUSTO-NETO, 2006).Esta inferência nos autoriza a pensar a midiatização relacionada com formas de comunicação que ainda se encontram implicadas em outras lógicas como a dimensão complexa e histórica da comunicação humana.

Por essa linha, o protagonismo midiático constrói-se tensionado pela exigência de um tipo de visibilidade pública atribuída pela lógica dos meios de comunicação, ao mesmo tempo em que os atores e movimentos sociais se apropriam e reelaboram tais lógicas, transformando a esfera das mídias em um espaço simbólico de conflitos, disputas e negociações e que se encontra, portanto, submetido permanentemente às tensões contraditórias dos interesses que circulam na sociedade (COGO, 2004, p.44).

Neste redesenho, a midiatização apresenta-se enquanto um campo de conjunções midiáticas e comunicacionais, onde tecnologias são apropriadas e re-significadas pelas dinâmicas sociais. Não objetamos a perspectiva de que as mídias se tornam matrizes configuradoras em que, “mais do que meros dispositivos técnicos passam a atuar como instâncias que atribuem visibilidade às ações de outros campos sociais e instituições (COGO, 2004, p.42).

Porém, é preciso perceber que o conceito de sociedade midiatização, comumente utilizado para se compreender as práticas sociais que se transformam em função dos meios (MATA s/d, p.4), apresenta-se permeada, ao mesmo tempo, por um processo antropológico e cultural que transforma e recria seus usos e sentidos.

Por este caminho, os processos comunicacional e midiático do MST, na cultura em midiatização, pretendem ser apreendidos como experiências comunicacionais de expressão da participação cidadã criadora e como exercício político e democrático de cidadãos que “históricamente han sido excluidos de las deciosiones, los debates y acesso a la produción de comunicación (PEREIRA, 2004 p. 138).

Importante destacar que mais do que as deficiências, até mesmo estruturais, em áreas como educação, saúde, moradia, trabalho e lazer, com as quais as camadas populares são obrigadas a conviver cotidianamente, a exclusão na produção social de informação e, logo, de comunicação destitui esses grupos do direito de decisão, participação e exercício da cidadania (SPENILLO, 2004). Desta maneira, a dimensão da sociabilidade pela qual se configura e reconfigura a cultura em midiatização, deve incluir, primordialmente, as problemáticas que advêm da luta social pelos direitos e construção da cidadania.