quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Aos donos de nossa terra!


Vivemos num tempo onde um grupo dita o ritmo. Porém, o lastimável é que apenas uma minoria entra na dança.
O que vem acontecendo em nossas cidades é triste. A falta de sensibilidade por parte das ditas “autoridades” de nosso chão parece ser cada vez mais evidente.
Extremo é o descaso frente aos habitantes indígenas de nossas cidades. Na oportunidade, reproduzo a matéria feita pelo meu companheiro de profissão, Clemir Schimitt:
“Dona Carlota, uma índia de 89 anos é uma senhora que vive as margens da estrada de ferro, em Herval D’ Oeste. Ela está tecendo uma áspera malha de bambu que pouco a pouco vai dando forma a mais um cesto.
O que parece o descaso das autoridades e a indiferença da sociedade tornou Dona Carlota invisível, porque muitos até comentam, alguns fingem que se importam, mas poucos são os que agem diante da cena de miséria.
A quase centenária senhora está ali com seus mais de 40 familiares, a maioria crianças desde novembro do ano passado e absolutamente nada foi feito para ampará-los a não ser um esforço sobrenatural de alguns órgãos municipais para expulsá-los da cidade.
Dona Carlota é a matriarca do grupo, mas com a exceção de seus descendentes poucos sabem da importância de seus descendentes, poucos sabem da importância de sua existência, porque sua prole sempre foi tratada neste país como netos do alheio, filhos do descaso, herdeiros do absurdo.
Pobres ignorantes, não sabem os que mal tratam são os verdadeiros donos deste chão. A sociedade dita civilizada é esquisita. Na escola veste as crianças com tangas e penas, no calendário relembram o dia do índio e quando está cara a cara com eles, torce o nariz, vira o rosto. Que gente hipócrita, não é Dona Carlota!”
Acrescento: Devemos ter consciência de que a terra para o índio é espaço sagrado, lugar dos mortos, lugar dos vivos, lugar de continuar vivendo. Para eles, a terra é mais do que um espaço de sobrevivência, de produção, de comercialização, ela é a própria vida, é a simbiose entre a vida, a história e as lutas.
Da mesma forma que a terra se traduz em vida, a ausência da terra pode ser traduzida em morte. Tanto a morte física como a morte cultural.
Outro grave erro é querer enquadrar o índio dentro de nossa cultura, dentro de nosso modo de produção ou estilo de vida...
Que possamos no mínimo compreendê-los e respeitá-los como os verdadeiros donos de nosso chão. Uma boa reflexão!

*Fonte de pesquisa: Pedro Uczai. Os últimos 500 anos de resistência.