terça-feira, 13 de maio de 2008

Degradação Social.


Por Monica Marlise Wiggers*... Uma grande companheira de sonhos e crítica... !!!

Se formos estudar as raízes do Brasil, veremos muitos autores que defendem a idéia de que se tivéssemos sido colonizados por holandeses, a historia do país seria diferente. Pergunto-me: diferente como? Mudaria a forma de colonização, ou mudaria somente a forma de exploração? Outros ainda defendem que a corrupção e o nepotismo, práticas tão comuns na política brasileira, seriam heranças culturais, advindas da cultura dos países hispânicos, entre eles Portugal. Um terceiro grupo, ainda afirma que a apatia do povo Brasileiro também deriva da cultura lusitana. O fato é que, independente da atual situação social do país ter suas raízes na colonização e na cultura dos primeiros Europeus que aqui chegaram, a hora de mudanças já bateu em nossas portas há muito. Nossa vizinha Argentina, alvo de piadas e antipatia, é, em muitos pontos, digna de admiração. Quem nunca viu ou ouviu falar dos famosos panelaços que ocorrem nas terras de nossos hermanos? Enquanto aqui o congresso nacional parece mais uma piada (de mau gosto), enquanto a corrupção e a falta de justiça modelam a sociedade brasileira e nada, ou quase nada, é feito, na Argentina, ao menor sinal dessas práticas a população invade as ruas, organiza passeatas e se faz ouvir.
Nas nossas escolas, as crianças aprendem desde cedo sobre Revolução Industrial, Guerras Européias, Independência dos Estados Unidos, mas pouco aprendem sobre nossos próprios vizinhos, nossos parceiros de Mercosul. Não sabemos quando se tornaram independentes, as lutas pelas quais passaram, a situação de extrema pobreza e desigualdade na qual vive uma significativa parcela da sua população. Por que não mostrar as nossas crianças a situação na qual se encontram os demais países latinos? Será que está pratica tem como principio a idéia de que é perigoso saber sobre o que se passa tão perto de nós, em uma escala na qual podemos atuar? E dessa forma é menos perigoso aos Estados e ao Capital que apenas tenhamos conhecimentos do que se passa em outros continentes, onde nada podemos fazer? Quando pensamos nisso, é impossível não remetermos ao caso da menina Isabella. Ninguém nega, nem seria possível negar, que sua morte foi chocante e que os culpados devem responder por seus atos. No entanto, o espaço destinado a este caso na mídia não condiz com o atual cenário sócio – político ambiental brasileiro. Enquanto os jornais, a população, todos os meios de comunicação estavam preocupados em cobrir o caso, pouco se falou em Corrupção nas diversas escalas do Governo, em leis que estavam sendo sancionadas ou não pelo poder legislativo, na invasão dos transgênicos, no desmatamento descontrolado da Amazônia, nas mortes no trânsito, na transposição do São Francisco.
O Brasil não pode mais ficar estático, em frente à TV vendo o que a mídia escolhe, sem ação, sem reação, sem opinião. Quando os estudantes invadem reitorias, exigem que reitores deixem seus cargos, que a infra-estrutura das universidades seja melhorada, muitas revistas, meios de comunicação e uma grande parcela da sociedade julgam-os como baderneiros ou rebeldes sem causa. Porém, se cada um de nós tivesse um pouco da disposição, força e coragem que os estudantes possuem, em “dar a cara a tapa”, ir a luta, “fazer barulho” e exigir um pouco de justiça, “ordem e progresso”, não estaríamos vivendo uma total degradação dos valores sociais. Enquanto não estivermos dispostos a lutar por um país mais junto não haverá solução para os complexos problemas que assolam profundamente o Brasil. Enquanto preferirmos assistir á um programa de “reality show” para eliminarmos algum participante, ao invés de assistirmos ao horário eleitoral para escolhermos nossos governantes, será a sociedade que continuará a ser eliminada do acesso aos seus direitos básicos: saúde, educação e lazer. Pois estes são direitos que se transformaram em privilégios de alguns. Afinal, quando os jornais anunciam o aumento da expectativa de vida dos brasileiros, pergunto-me: de quais brasileiros? Dos que vivem nas favelas, dos que moram no sertão nordestino, nas periferias das grandes capitais? Realmente, acho que não. Vida com dignidade, e dignidade para todos. É por isso que devemos lutar.

* Monica Marlise Wiggers é acadêmica do Curso de Geografia da Universidade Federal de Santa Maria.