sábado, 29 de maio de 2010

Sem vice Serra não versa e nem prosa



Desde a infância reparei que os tucanos não voam alto e não revoam por muito tempo. Talvez pelo peso do bico ou por acharem as estrelas sempre distantes. Preferem o chão e, mesmo estando nele, na maioria das vezes são desajeitados, tropeçam e se enroscam. Nessas enroscadas, sem um vice definido, Serra continua ciscando no terreiro das possibilidades. Ou seja, sem um um vice Serra não versa e nem prosa. Já a Dilma tem vice e versa. Com a estrela no peito, voa no vento e na prosa do filho do Brasil. Será que essa revoada não está para tucanos?

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Rádios via internet são proibidas de transmitir os jogos da Copa


A medida imposta pela FIFA visa proteger a detentora oficial dos direitos de transmissão da Copa 2010, a Rede Globo

Mantendo a mesma medida de 2006, as rádios via internet não estão autorizadas a transmitirem os jogos da Copa do Mundo FIFA 2010, que será realizada na África do Sul a partir do mês que vem. A medida também vale para as estações AMs e FMs que possuem seus áudio ao vivo disponibilizados na internet.

A medida é imposta pela FIFA para proteger a detentora oficial dos direitos de transmissão da Copa 2010, a Rede Globo. A emissora carioca vai realizar transmissão com imagem dos jogos da Seleção Brasileira através de seu portal, conforme já anunciado pela própria rede. As demais rádios como Eldorado, Jovem Pan, Itatiaia, Bandeirantes, Gaúcha, Super Radio Tupi, Transamérica, entre outras, também possuem os direitos de transmissão, porém por vias terrestres.

Em resumo: essas estações realizarão a transmissão apenas por via terrestres, ou seja, via radiodifusão convencional. As afiliadas dessas redes nacionais deverão desligar seus sistemas de streaming durante as transmissões dos jogos da Copa, ou inserir outra programação na internet. Essa situação já foi constatada em 2006: as grandes marcas de São Paulo executaram outra grade na internet.
Também está proibida a transmissão para dispositivos móveis, como celulares smartphones.

Fonte: TudoRádio.com

terça-feira, 25 de maio de 2010

Compós 2010 - PUC-RIO



"Cada vez que o reino do humano me parece condenado ao peso, digo para mim mesmo que à maneira de Perseu (o herói mitológico que decepa a cabeça da Medusa porque voa com sandálias aladas. Para decepar a cabeça da Medusa sem se deixar petrificar) eu devo voar para outro espaço. Não se trata absolutamente de fuga para o sonho ou o irracional. Quero dizer que preciso mudar de ponto de observação, que preciso considerar o mundo sob uma outra ótica, outra lógica, outros meios de conhecimento e controle. As imagens de leveza que busco não devem, em contato com a realidade presente e futura, dissolver-se como sonhos..." Italo Calvino

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O fetiche de quantidade


Metas de produtividade e burocracia acadêmica diminuem o potencial de pesquisas científicas. A criação de conhecimento não pode ser medida somente pelo número de trabalhos escritos pelos pesquisadores, como é a tendência atual no Brasil.

A cada tanto tempo, volta-se a discutir como deve ser avaliado o trabalho dos professores. O grande número de pessoas envolvidas nos diversos níveis de ensino, assim como o de artigos e livros que materializam resultados de pesquisa, tem determinado uma preferência por medidas quantitativas.
Se estas podem trazer informações úteis como dado parcial para comparar resultados de escolas em vestibulares ou o desempenho médio de alunos em determinada matéria, sua aplicação como único critério de "produtividade" na pós-graduação vem gerando -a meu ver, pelo menos- distorções bastante sérias.
Não é meu intuito recusar, em princípio, a avaliação externa, que considero útil e necessária. Gostaria apenas de lembrar que a criação de conhecimento não pode ser medida somente pelo número de trabalhos escritos pelos pesquisadores, como é a tendência atual no Brasil. Tampouco me parece correta a fetichização da forma "artigo em revista" em detrimento de textos de maior fôlego, para cuja elaboração, às vezes, são necessários anos de trabalho paciente.
A mesma concepção tem conduzido ao encurtamento dos prazos para a defesa de dissertações e teses na área de humanas, com o que se torna difícil que exibam a qualidade de muitas das realizadas com mais vagar, que (também) por isso se tornaram referência nos campos respectivos.
O equívoco desse conjunto de posturas tornou-se, mais uma vez, sensível para mim ao ler dois livros que narram grandes aventuras do intelecto: "O Último Teorema de Fermat", de Simon Singh (ed. Record), e "O Homem Que Amava a China", de Simon Winchester (Companhia das Letras).
O leitor talvez objete que não se podem comparar as realizações de que tratam com o trabalho de pesquisadores iniciantes; lembro, porém, que os autores delas também começaram modestamente e que, se lhes tivessem sido impostas as condições que critico, provavelmente não teriam podido desenvolver as capacidades que lhes permitiram chegar até onde chegaram.

Everest da matemática
O teorema de Fermat desafiou os matemáticos por mais de três séculos, até ser demonstrado em 1994 pelo britânico Andrew Wiles. O livro de Singh narra a história do problema, cujo fascínio consiste em ser compreensível para qualquer ginasiano e, ao mesmo tempo, ter uma solução extremamente complexa. Em resumo, trata-se de uma variante do teorema de Pitágoras: "Em todo triângulo retângulo, a soma do quadrado dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa", ou, em linguagem matemática, a2²=b2²+c2².
Lendo sobre esta expressão na "Aritmética" de Diofante (século 3º), o francês Pierre de Fermat (1601-65) -cuja especialidade era a teoria dos números e que, junto com Pascal, determinou as leis da probabilidade- teve a curiosidade de saber se a relação valia para outras potências: x3³= y3³ + z3, x4 = y4 + z4 e assim por diante. Não conseguindo encontrar nenhum trio de números que satisfizesse as condições da equação, formulou o teorema que acabou levando seu nome -"Não existem soluções inteiras para ela, se o valor de n for maior que 2"- e anotou na página do livro: "Encontrei uma demonstração maravilhosa para esta proposição, mas esta margem é estreita demais para que eu a possa escrever aqui".
Após a morte de Fermat, seu filho publicou uma edição da obra grega com as observações do pai. Como o problema parecia simples, os matemáticos lançaram-se à tarefa de o resolver -e descobriram que era muitíssimo complicado.
Singh conta como inúmeros deles fracassaram ao longo dos 300 anos seguintes; os avanços foram lentíssimos, um conseguindo provar que o teorema era válido para a potência 3, outro (cem anos depois) para 5 etc. O enigma resistia a todas as tentativas de demonstração e acabou sendo conhecido como "o monte Everest da matemática". É quase certo que Fermat se equivocou ao pensar que dispunha da prova, que exige conceitos e técnicas muito mais complexos que os disponíveis na sua época.
Quem a descobriu foi Andrew Wiles, e a história de como o fez é um forte argumento a favor da posição que defendo. O professor de Princeton [universidade americana] precisou de sete anos de cálculos e teve de criar pontes entre ramos inteiramente diferentes da disciplina, numa epopeia intelectual que Singh descreve com grande habilidade e clareza. Não é o caso de descrever aqui os passos que o levaram à vitória; quero ressaltar somente que, não tendo de apresentar projetos nem relatórios, publicando pouquíssimo durante sete anos e se retirando do "circuito interminável de reuniões científicas", Wiles pôde concentrar-se com exclusividade no que estava fazendo.
Por exemplo, passou um ano inteiro revisando tudo o que já se tentara desde o século 18 e outro tanto para dominar certas ferramentas matemáticas com as quais tinha pouca familiaridade, mas indispensáveis para a estratégia que decidiu seguir. Questionado por Singh sobre seu método de trabalho, Wiles respondeu: "É necessário ter concentração total. Depois, você para. Então parece ocorrer uma espécie de relaxamento, durante o qual, aparentemente, o inconsciente assume o controle. É aí que surgem as ideias novas".
Este processo é bem conhecido e costumo recomendá-lo a meus orientandos: absorver o máximo de informações e deixá-las "flutuar" até que apareça algum padrão, ou uma ligação entre coisas que aparentemente nada têm a ver uma com a outra. Uma variante da livre associação, em suma.
Ora, se está correndo contra o relógio, como o estudante pode se permitir isso? A chance de ter o "estalo de Vieira" é reduzida; o mais provável é que se conforme com as ideias já estabelecidas, o que obviamente diminui o potencial de inovação do seu trabalho.
Renato Mezan