sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Vargas Llosa em Porto Alegre


"As letras e artes são os únicos campos menos afetados pela especialização e pelo domínio de uma elite”.

Distante de ser comunista ou um confesso liberal, Mário Vargas Llosa, Prêmio Nobel de literatura 2010, esteve em Porto Alegre nesta quinta-feira (14). Peruano, casado duas vezes, primeiro com uma tia e depois com uma prima, criticou os regimes de Castro e Chaves. Afirmou que a única “deformidade política” de Lula é seu excesso de cordialidade e de convívio harmonioso com os referidos companheiros.

Na coletiva, Llosa discursou por mais de uma hora e elogiou a atuação de Lula, especialmente os programas de inclusão social e de modelo econômico.
Durante a noite, em conferencia para mais de seiscentas pessoas, focou seu discurso no papel libertador da Cultura: “a cultura, artes e a literatura se justificam pela capacidade de transformação social. Apresentam-se para ocasionar estado de incômodo e de instabilidade em qualquer espaço”, destacou.

Durante o debate com os participantes afirmou estar animado, mas preocupado com os caminhos da humanidade: “Progresso da humanidade? Menos analfabetismo e aumento da produção bélica?”, interrogou.

Para Vargas, a cultura é algo que antecede o conhecimento, pois é a sensibilidade que nos leva ao conhecimento. Defensor dos direitos humanos, Llosa afirmou que “as formas de liberdade de expressão são indícios de cultura” e que em nossa história, “as letras e artes são os únicos campos menos afetados pela especialização e pelo domínio de uma elite”.

Ao final, distribuiu autógrafos e não quis revelar o que fará com o prêmio de 1,5 milhão de dólares: “perguntem para minha mulher. Ela cuida das nossas finanças. Mas espero que ao menos eu consiga algum dinheiro para continuar comprando meus livros”.

Segundo Aline Evers, 26, tradutora, “foi ótimo assistir o Llosa, ainda mais porque ganhou o prêmio na semana passada. Eu não gostei muito da palestra dele. Acho que o debate foi o mais interessante. Ele poderia ser mais espontâneo e não tanto preso no papel. Minha sugestão é que venham mais intelectuais da lingüística, como Chomsky, por exemplo", destacou.