segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Internet: um espaço para se ocupar, produzir e transmitir!



A Internet isola, aliena, leva à depressão, ao suicídio, enfim, a toda a espécie de coisas horríveis? Ou pelo contrário: a Internet é um mundo fantástico de liberdades, de novas interações, novas amizades, onde todos se amam e formam inúmeras comunidades?

Creio que temos ainda mais dúvidas do que respostas. Até mesmo os poucos estudos já realizados não convergem para um único caminho (Morais 2006). Ambos trafegam em algum dos extremos: a Internet aliena por um lado, mas liberta por outro. O que de fato é indiscutível é que de alguma maneira o advento da Internet trouxe consigo novas potencialidades que vão para além da esfera ou da ordem individual,de um ciclo limitado de pessoas: "A internet revela-se como espaço de socialização do conhecimento e de novas configurações para o convívio social."(Bretas 2006). É por essa ótica que pretendo desenvolver a reflexão que segue.

Por um longo período de nossa exitência, as formas de contato humano estendiam-se no espaço limitado do “ver”, do poder “tocar” e do “sentir” fisicamente. Percebe-se que o contato físico era o condicionante propulsor de nosso universo societário. As formas de interação social limitavam-se na esfera do “face-a-face” ou em conexões sociais estabelecidas somente em circunstancias de “co-presença” como salienta Giddens (2003). A vida cotidiana, arraigada na co-presença, do contato “olho-no-olho” foi, até certo período, a única forma de efetivação ou exercício de nossa sociabilidade.
Com a chegada da Internet acontece uma expressiva reconfiguração nesta realidade até então mais estável, previsível e delimitada. A emergência desse meio de comunicação congregou inéditas possibilidades de interação social até então jamais vivenciada por qualquer época humana.

Atualmete, nossas vidas são tecidas em uma nova sociabilidade, agora também sócio-técnica, à distância, onde as fronteiras e limites impostos pela nossa condição humana abrem espaço para novos alargamentos de possibilidade infinita.
O que por vezes, na condição face-a-face, limitava nossa curiosidade de transcender, de ir além do que prevíamos ser possível, pode ser facilmente rompida num piscar de olhos ou num “clicar” como nos sugere tal ferramenta. O que até então somente poderia ser conhecido através da interação humana ganha um aditivo rápido e quase instantâneo. Eis o esplendor deste meio de comunicação, que ao avanço dos tempos não se torna apenas uma tecnologia, instrumento ou extensão puramente mecânica: “a tecnologia, remete hoje, não a alguns aparelhos, mas, sim, a novos modos de percepção e de linguagem, a novas sensibilidades e escritas” diz Martín-Barbero.(2006).

Para Manuel Castells (2003), referindo-se especificamente a Internet, “esta tecnologia é mais que uma tecnologia”, dela emana múltiplas possibilidades que instauram novas dependências, as quais vão se transmutando geneticamente em nossa forma de ser e de viver. Basta imaginarmos o caos humano se a conexão “WWW” (World Wide Web) fosse interrompida. Certamente não apenas os fluxos financeiros colapsariam, como também toda a sociabilidade passaria por conseqüências imprevisíveis. Mesmo aqueles que não possuem o acesso à Internet estariam recebendo em seus aparelhos de rádio, TV etc., notícias nada agradáveis.


Outra reflexão importante diz respeito aos muitos movimentos sociais de massa que emergiram e ganharam novo fôlego a partir das potencialidades oferecidas pela Internet. Em meados da década de 1990 o movimento Zapatista mexicano mobilizou a imaginação popular pelo mundo todo, congregando apoio para sua causa através das redes eletrônicas. Da mesma forma, novos movimentos surgem, agregando adeptos em todos os continentes, disparando gritos de ordem através de torpedos instantâneos via celular ou scrap etc.

Se no ciberespaço nascem os militantes virtuais, descaracterizados de uma ação real como criticam alguns estudiosos, temos que considerar por outro lado, que muitos movimentos sociais - mesmo os avessos ou descrentes das potencialidades revolucionarias da Internet – expandem-se e movimentam-se hoje por um espaço ate então regulado e legislado por uma minoria: o espectro televisivo e radiofônico.

Para finalizar, ressalto a importância de que a Internet é a maior potencialidade de conexão do ´local´ com o ´global´. A qualquer hora e de qualquer lugar podemos reverberar pelo mundo sonhos que até então não cruzavam certas barreiras. Ações locais ganham peso e maior capacidade de dispersão, fazendo, como salienta Foucault (1996), com que o poder não se concentre em apenas um lugar ou em uma única fonte.

Vai-se aos poucos um tempo onde vozes eram facilmente caladas por regimes selvagens de censura. Por isso, sou otimista em crer que aos poucos a Internet irá se consolidando como espaço onde a liberdade de expressão também possa fluir em sua forma mais autêntica e legítima possível. Gianni Vatimo ( 2003) reforça a tese de que a internet pode também ser um espaço para se fortificar o envolvimento e a pertença entre sujeitos. A internet deve ser, diz ele, "uma comunicação em que seja cada vez mais intenso o sentimento de comunidade de sujeitos que nela se encontram envolvidos".

Neste tempo de Internet, muitas dúvidas nascem da mesma forma que se multiplicam os espaços de discussão, de difusão da critica e de mobilização contra tudo aquilo que oprime a condição humana. Creio também, que pouco conhecemos do muito que a internet transformou e pode transformar ... Enfim, vamos adiante, à frente, estudando, ocupando, produzindo e transmitindo ideais de vida através deste espaço que nos projeta para o mundo

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