sábado, 10 de dezembro de 2011

O "Saber cultivar" em Gramsci

"A roseira pegou uma terrível insolação: todas as folhas e as partes mais delicadas se queimaram e carbonizaram; tem um aspecto desolado e triste, mas começa a dar brotos novamente. Não morreu, pelo menos por hora. A catástrofe solar era inevitável, por que só pude cobri-la com papel, que o vento carregava (...). As sementes demoram muito para germinar (...); por certo eram sementes velhas e, em parte, estragadas. As que saíram à luz do mundo se desenvolvem lentamente e estão irreconhecíveis. 

Acho que o jardineiro, quando lhe disse que uma parte das sementes era muito boa, queria dizer que serviam para comer; de fato, algumas plantinhas se parecem estranhamento com salsa e cebolinha, em vez de flores. Todo o dia me vem a tentação de espichá-las um pouco para ajudá-las a crescer, mas hesito entre as duas concepções de mundo e a da educação: ou ser rousseauniano e deixar a natureza, que nunca erra e é fundalmentalmente boa, ou ser voluntarista e forçar a natureza, introduzindo na evolução a mão experiente do homem e o princípio da autoridade. Até agora a incerteza não acabou e em minha cabeça as ideologias estão em conflito. As seis plantinhas de chicória logo se sentiram em casa e não tiveram medo do sol: já começaram a desenvolver o talo, que dará as sementes para as futuras colheitas. As dálias e as canas-da-índia dormem sob a terra e ainda não deram sinal de vida"

Cartas do cárcere de Antonio Gramsci (pg. 334). Cácere de Turi, 22 de abril de 1929

Um comentário:

Maurília Gomes disse...

Adorei a escolha do recorte. Me identifiquei totalmente com esse post. Na minha cabeça, as ideologias também estão em conflito :D