sábado, 10 de dezembro de 2011

Sofrer ou agir a mídia?


"Os meios de comunicação são inseparáveis do nível de desenvolvimento das forças produtivas de uma dada sociedade, de modo que eles estão sempre inextrincavelmente atados ao modo de produção econômico-político-social.” (SANTAELA, 2008, p. 10).

Grande parte, ou talvez a quase totalidade das correntes teóricas, dos pesquisadores e dos militantes - sejam da comunicação, da sociologia ou da política -, compreendem a relação "mídia e sociedade" de modos distintos, mas pouco diferenciados.Distintos por que inovam nos conceitos e nas expressões, mas pouco diferenciados por que na prática pouco atuam ou avançam e, por isso, continuam a realçar e a praticar a velha disjunção entre 'mídia e sociedade'  em detrimento da interelação, via processos de poder, hegemonia, negociação e de disputa.

Para alguns, parece que a mídia, enquanto dispositivo tecnológico ou conteúdo, paira em um plano metasocial; um epífenômeno solto e intacto de qualquer intervenção, investimento, estratégia ou de prática social.

Esta perspectiva, excessivamente separatista, gera dois grandes acontecimentos:

1 - a anulação histórica da constituição dos monopólios midiáticos sob a lógica da dominação e do silenciamento social - já que a mídia é o resultado de uma elite que 'faz bem a mídia', pois oferta o que o povo deseja;
2- o apagamento  das possibilidades de engajamento pelos próprios atores sociais - via novas tecnologias - sobre esta mesma lógica, já que a mídia é o príncipe eletrônico, o quarto poder ou um grupo capitalista incomunicável e intocável.

Alimenta-se, assim, um movimento autopoiético, que invisibiliza as brechas, como as possíveis ações sociais transformadoras sobre a própria mídia. Mesmo com tantas tecnologias de uso individual, pouco se avança para a prática comunicacional coletiva, a qual é a única capaz de alterar para o modo "agir" todas aquelas práticas, discursos e sentidos do "sofrer" a mídia.  

Ou seja: "deveríamos voltar a pensar em que sentido tem a velha noção, tomada de Paulo Freire, da comunicação popular como aquela dimensão comunicacional de trabalho político." (HUERGO, 2009, p. 199-200 – tradução livre).


Bib.

*HUERGO, A. Jorge.Reflexiones sobre la formación ciudadana em la “sociedad de la información”. In: MATA, Maria Cristina.(org). Democracia y ciudadanía em la “sociedad de la información” desafios y articulaciones regionales. Córdoba: 2009.


SANTAELA, Lucia. Por que as comunicações e as artes estão convergindo? 3º Ed. São Paulo: Paulus, 2008.

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