quinta-feira, 13 de setembro de 2007

“O CONTESTADO”: Isso sim explica a nossa realidade!


Com os ingressos sempre na pindaíba, a Peça teatral “O Contestado” proporcionou à nossa região fortes momentos de emoção... Esta oportunidade fez emergir uma enorme força, capaz de reacender inúmeros e diversos sentimentos no publico presente. Além de ser um rico resgate histórico, “O Contestado” instigou-me a algumas reflexões acerca de nossa realidade enquanto meio oeste catarinense.
Sabemos que a desigualdade social, evidente aqui em nossa região, não é fruto de uma lógica simplista, ou do por que “Deus quis assim”. A violência que prende e divide o ser humano entre muros e grades, bons e maus, possui sua gênese em fatos mais do que reais e não em razões metafísicas, distantes da ação humana como julga o senso comum.
Jamais existe realidade ou vida atual sem antes ser ela o resultado de elementos históricos.
Até mesmo o discurso da minoria rica, “Meu capital é fruto do meu suor” se evapora se posto em paridade com os fatos do nosso passado.
Os bugres, os jagunços da Guerra do Contestado, massacrados pelos coronéis e políticos da época, ainda continuam vivos no sangue de muita gente por aqui. Espoliados e “pinchados” na base de tiros e torturas, estes pequenos agricultores viram seus pedaços de vida serem concedidos aos políticos e depois virarem lucro de uma empresa norte americana.


Rubem Alves: Tenho direito à terra como tenho direito ao meu próprio corpo: por que ao corpo, o corpo pertence à terra...E até dei ordens para ser cremado, quando morrer, e minhas cinzas serem colocadas na raiz de um Ipê amarelo...É que tenho claustrofobia aos túmulos, e desejo ser devolvido à circulação de fertilidade..Que meu corpo fique Semente... Direito à terra: o problema está em onde se colocam as cercas...Claro que as cercas são necessárias. A pele é uma primeira cerca, depois a roupa, a casa...Mas há aqueles que fincam cercas para além dos limites da necessidade do seu corpo... Um latifúndio é formado com a carne de todos aqueles que são deixados de fora dele...Mas quando a terra é algo mais do que o corpo necessita ela deixa de ser vida e se transforma em lucro...em sobras...em aquilo que não foi consumido pela vida.... Assim a terra perde a sua sacralidade e passa a ser uma extensão do Banco.. Transformam-se em demônios..Daí a violência...

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