quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Vivemos para a vida ou para a morte?


Nestes tempos, alguns fatos me levaram a refletir sobre a relação vida e morte. Em um mesmo momento rememorava o primeiro ano de falecimento de um grande amigo (Antonio Zamboni) e também recebia a triste notícia do trágico falecimento de uma amiga (Kaline Coradi), ex-residente em Sede Belém. Ambos jovens, vítimas de acidente automobilístico.
Quando tocamos neste assunto, logo nos vem o sentimento de repulsa, como que se isso fosse alheio à nossa realidade. Por outro lado, estabelecemos uma proximidade com a morte desde os primeiros indícios de nossa vida, pois não há vida fora da morte como não há morte fora da vida!
A morte está tão próxima de nós que acaba se tornando um dos melhores argumentos quando se falta assunto numa roda de conversa. Além de se falar sobre as condições do tempo (Será que chove, será que faz sol?), a morte e a tragédia sempre aparecem (Nossa!!! você soube daquele acidente, daquela morte?) fazendo se espichar o papo...
Por este motivo que a maioria dos conteúdos midiáticos estão vermelhos de sangue, mesmo sendo friamente espetácularizado por parte do veículo transmissor, objetivando simplesmente o lucro gerado pela audiência.
Mesmo em nossa cultura religiosa, o espanto para com a morte sempre se fez mais presente do que admiração para com a beleza da vida. Temos alguns exemplos: Na Páscoa, a programação é extensa, a igreja se torna pequena, porém, no dia 25 de Dezembro a mesma igreja se torna mais aconchegante e espaçosa. Uma outra prova disso, principalmente nas comunidades do interior, é o fato de se tocar o sino quando alguém morre, no entanto, quando há um nascimento os sinos silenciam-se. As juras conjugais seladas ao pé do altar também encontram o seu natural encerramento neste fenômeno: “até que a morte os separe”, mesmo se acreditando em vida eterna.
Podemos também identificar dois tipos de morte que rondam a nossa existência.
A primeira é morte impactante, aquela que apaga a luz da vida num instante. É o impiedoso ponto final. A morte de fato. Aquela que nos ataca repentinamente.
Por outro lado, detectamos também a morte de cada dia. Aquela que vai corroendo aos poucos, pelas beiras. Seria uma espécie de morte paulatina, nos possibilitando certa margem de reação. Não me refiro aqui somente à questão da morte física ou o inevitável envelhecimento, mas acima de tudo aquela morte que não se torna tão perceptível aos nossos olhos. Cito algumas:
Para a consolidação de uma cultura patriarcal e machista, quantas mulheres que lentamente morriam ou ainda morrem para a satisfação dos desejos de um homem, se limitando a clausura dos afazeres domésticos através da submissão, sem poder jamais vivenciar ou experimentar a docilidade das suas potencialidades?
Em nossos dias, quantos são aqueles que morrem lentamente vítimas do abuso dos patrões, em jornadas massacrantes de trabalho? Ou por outro lado, quantos são aqueles que morrem lentamente vítimas de um padrão de vida e de consumo (status quo), sempre atormentados pela insatisfação e angústia gerada a cada novo lançamento de grife ou marca?
Enquanto isso vamos à luta, vivendo de maneira significante não somente ao nosso “mundinho”, mas sim ao maior número de outras vidas possíveis. Quanto à morte enquanto fim da vida, não nos preocupemos tanto assim. O filósofo Nietzsche nos tranqüiliza, pois: “Onde a morte está já não estamos mais...Onde estamos a morte não está”. Façamos de nossas vidas uma esperança, pois esta é a ultima que morre...Coragem e força de vida à todos nós...

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